por Néli Pereira*

O “ser brasileiro” sempre me interessou, tanto que fiz um mestrado cujo foco era justamente a nossa identidade nacional – eterno dilema do “tupi or not tupi”.

Quando entrei no universo da coquetelaria, essa pulga continuou atrás da orelha, principalmente ao ver tantos profissionais em busca da “mixologia brasileira”, tentando – muitas vezes em vão – engessar esse conceito.

Aí dia desses fui almoçar com Márcio Silva, um dos principais bartenders nacionais, à frente do Guilhotina, e ele soltou a frase: “o brasileiro é coquetel”. Ele falava sobre como deveríamos olhar para o que vem de fora, sim, mas com nossos filtros, respeitando nossas características.

Em momentos de crise como o que atravessamos, é esse diferencial que pode nos levar além. Nesse período difícil – em tantas frentes, inclusive econômicas – nada mais coerente do que olhar para dentro e buscar soluções e recursos, inclusive para o mundo do bar. Só a caipirinha nos une.

nossa caipira

A caipirinha é até hoje (e desde 1995) o único coquetel brasileiro da lista oficial de coquetéis internacionais da Associação Internacional de Barmen (IBA, na sigla em inglês). Ela é o 64º drinque da lista e o primeiro brasileiro da relação, ao lado de outros clássicos como o dry martini. O feito foi conquistado graças ao pedido de Derivan de Souza, um dos mais experientes bartenders brasileiros. Qual seria o próximo drinque nacional com essa possibilidade?

Brasil para exportação

Falando em “jeito brasileiro” de fazer, o Brasil vem conquistando cada vez mais espaço na coquetelaria mundial. O mesmo Guilhotina é finalista do Tales of the Cocktail, considerado o Oscar mundial da coquetelaria, e concorre em quatro categorias – inclusive melhor carta de drinques. O segredo ali, além da execução impecável e do sorriso no rosto dos bartenders, é a coquetelaria tropical, como nosso País.

* Texto publicado na coluna A coqueteleira, da edição 219 (julho/2017)