27/05/2018 - 8:00
por Roberto Fonseca*
Era uma questão de tempo até que o movimento cervejeiro artesanal chegasse ao Nordeste do Brasil. Primeiro, foram os rótulos importados e nacionais oriundos do Sul e Sudeste, que, apesar de ampliarem a variedade de opções, não raro chegavam caros e em condições longe do ideal. No último ano, contudo, em busca de frescor – e até mesmo de identidade regional –, mais de uma dúzia de novas marcas surgiu em Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará.
“Não havia bares com chope e as garrafas de fora muitas vezes chegavam prejudicadas pelo transporte”, afirma Wellington Alves, cervejeiro e sócio da 5 Elementos, de Fortaleza (CE), aberta no fim de 2016. Segundo ele, outros dois empreendimentos do setor começaram a funcionar mais recentemente no Estado. Diogo Chiaradia, da pernambucana Ekäut – aberta em 2016 e uma das dez marcas no Estado – concorda: “Conseguimos entregar mais frescor estando próximos do mercado consumidor.”
Além da dificuldade natural de instalação e funcionamento da cervejaria, Alves aponta outros problemas que, a seu ver, são mais acentuados pela localização do Nordeste. “Todos os insumos vêm de fora, com custo de frete, e também temos (no Ceará) um dos ICMSs mais caros do País.”
Adriano Bovo, cervejeiro caseiro e sócio da Sotera, em Salvador – uma das três cervejarias já estabelecidas na Bahia; há mais três em andamento –, vê outro desafio importante: “Aqui em Salvador ainda se considera a melhor cerveja a que é mais gelada, e o preço ainda é um fator decisivo”, afirma. Fernando Nóbrega, sócio da Raffe, em Natal – uma das seis cervejarias em funcionamento no Rio Grande do Norte –, vai na mesma linha: “Muita gente se surpreende positivamente com nossas cervejas, mas é nossa responsabilidade explicar que é um produto diferente, para não gerar frustração.”
Além de incentivar o consumo de chope, os cervejeiros locais apostam ainda em receitas em alta entre os aficionados – as IPAs, sempre elas, lideram a lista, mas também há Imperial Stouts e American Pale Ales – e no uso de ingredientes regionais, como cajá, melaço de cana e nibs de cacau. “Mas não queremos que isso (regionalismo) seja uma amarra. Acho que o importante é que sejam cervejas boas e que o consumidor veja vantagem no custo-benefício”, diz Nóbrega.