14/03/2023 - 13:46
A dieta mediterrânea, composta de nozes, frutos do mar, grãos integrais, muitos vegetais e azeite de oliva, pode reduzir o risco de demência em quase um quarto, de acordo com pesquisas iniciais promissoras que podem abrir caminho para novos tratamentos preventivos, como informou o The Guardian.
Os novos dados sugerem que comer muitos alimentos à base de plantas – como ocorre nesse tipo de dieta – pode exercer um “efeito protetor” contra a demência, independentemente do risco genético do indivíduo. Segundo os pesquisadores, essa constatação recente pode servir de base para futuras estratégias de saúde pública se pesquisas posteriores confirmarem as descobertas recentes.
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A principal autora conjunta do estudo, Janice Ranson, pesquisadora sênior da Universidade de Exeter, disse que “as descobertas deste grande estudo destacam os benefícios de longo prazo de consumir uma dieta mediterrânea, rica em frutas, legumes, grãos integrais e gorduras saudáveis, para a saúde do cérebro.”
“O efeito protetor desta dieta contra a demência foi evidente, independentemente do risco genético da pessoa e, portanto, é provável que seja uma escolha de estilo de vida benéfico para quem procura fazer escolhas alimentares saudáveis e reduzir o risco de demência”, afirma ela.
As descobertas, publicadas na revista BMC Medicine, são baseadas em dados de mais de 60.000 indivíduos do UK Biobank, um banco de dados online de registros médicos e de estilo de vida de mais de meio milhão de britânicos.
Os pesquisadores classificaram os indivíduos usando duas medidas de adesão à dieta mediterrânea e levaram em consideração o risco genético de demência de cada indivíduo. Ao longo de quase uma década, houve 882 casos de demência, mas aqueles que seguiram uma dieta mediterrânea estrita tiveram um risco 23% menor de desenvolver a doença, em comparação com aqueles que comiam de forma diferente.
Combate à demência
Oliver Shannon, professor de nutrição humana e envelhecimento na Universidade de Newcastle e principal autor do estudo, disse que encontrar maneiras de reduzir o risco de desenvolver demência é uma “grande prioridade” para a saúde pública. “A demência afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo e atualmente existem opções limitadas para tratar essa condição”, disse ele.
Susan Mitchell, da Alzheimer’s Research UK, concordou que a pesquisa parece bem interessante, mas reforçou que são necessários novos estudos, que deveriam ser estendidos para incluir pessoas negras, asiáticas e de minorias étnicas, principalmente porque a demência ainda é estigmatizada em algumas comunidades.
Para Susan, ainda não há “maneiras infalíveis” de prevenir a demência. “Existem muitas evidências de que uma dieta saudável e balanceada pode ajudar a reduzir o risco de declínio cognitivo. Mas a evidência para dietas específicas é muito menos clara”, afirma.
O professor David Curtis, do Instituto de Genética da UCL, disse que o estudo não reflete o fato de que as pessoas que seguem uma dieta mediterrânea geralmente são mais propensas a ter um estilo de vida saudável. Por isso, ficou em dúvida se a dieta, em si, reduz o risco de demência, ou se o estilo de vida, em conjunto com a dieta, tem esse poder.
Limitações do estudo
“É importante observar que o estudo diz respeito a todas as formas de demência, não especificamente à doença de Alzheimer. Na minha opinião, se houver um efeito da dieta, é mais provável que seja na saúde cardiovascular em geral e, portanto, tenha impacto na demência devido à doença vascular, em vez da doença de Alzheimer”, acredita ele.
Existem limitações para os resultados, que se baseiam principalmente em pessoas com ascendência europeia, com mais estudos necessários com ampla gama de populações.
Duane Mellor, nutricionista e professor da Universidade de Aston, observou que o questionário alimentar usado não refletia os hábitos alimentares britânicos, por exemplo – e que as batatas, por exemplo, são consumidas de maneira diferente no Reino Unido em comparação com o Mediterrâneo.
Mellor acrescentou que o estudo também não cobria o aspecto social da alimentação, que é considerado uma característica central da dieta mediterrânea e pode ter um efeito protetor contra a demência ao aumentar as interações com as pessoas, mesmo após a velhice.