por Suzana Barelli

Famoso no mundo dos vinhos pelo polêmico Mondovino, o cineasta norte-americano Jonathan Nossiter passou por São Paulo no início de agosto para apresentar seu segundo filme sobre o tema, chamado de Resistência Natural. Desta vez, a película não é tão maniqueísta, dividido entre os “bons” e os “maus” vinicultores como em seu filme anterior, mas mostra a resistência de quatro produtores italianos em elaborar vinhos naturais em seu país de origem e não há previsão de o filme entrar em circuito comercial.

A melhor cena do filme é com Stefano Bellotti, da Cascina Degli Ulivi, no Piemonte. Com o auxílio de uma pá, o produtor cavoca a terra de dois vinhedos, lado a lado, situados a não mais de dois metros de distância um do outro. Um deles é o de Bellotti, cultivado apenas com produtos naturais; o outro é uma vinha tratada de forma, digamos, convencional. A imagem dos dois quinhões de terra choca: uma é “fofa”, com raízes, de um marrom vivo, com pequenos insetos. A segunda é uma terra quase sem cor e sem vida, compactada, sem raízes – impossível de imaginar que será capaz de abrigar uma planta viva e gerar bons frutos.

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, esta cena merecia estar no cartaz do filme. E rodar o mundo inteiro, como um sinal de alerta para os perigos dos produtos sintéticos para tratar a terra. É ela que resume o filme, um documentário focado muito mais na agricultura e nas questões filosóficas de elaborar um vinho puro, do que em uma vinicultura natural, e intercalado com cenas do cinema europeu de décadas atrás.

O filme pouco traz sobre a elaboração dos vinhos naturais, despertando a curiosidade de como é possível fazer um branco ou um tinto puro e de qualidade no universo dominado por vinhedos cultivados com agrotóxicos e outros venenos para a terra. Para Nossiter, a questão do gosto, como indicação de qualidade, é mais estética e, provavelmente por isso, não cabe em sua película. Dos quatro produtores, eu conheço apenas os vinhos da La Stoppa, vinícola de Elena Pantaleoni, e gosto muito. O seu Trebbiolo Rosso 2012 é um tinto que mescla barbera e bonarda e que traz a pureza da fruta, um pouco nervoso no paladar, longo. Este tinto, assim como os demais rótulos dos quatro viticultores do filme, são trazidos para o Brasil pela Piovino, importadora de Paula Prandini, a mulher de Nossiter.