por Suzana Barelli

Nem bem assumiu a presidência do Ibravin, o Instituto Brasileiro do Vinho, o enólogo gaúcho Dirceu Scottá logo divulgou uma boa notícia: a venda dos produtos derivados da uva e do vinho cresceu 6,9% em volume em 2015 em comparação com o ano anterior. A alta foi impulsionada pelo suco de uva e, nos alcoólicos, pelos espumantes. Mas a segunda notícia de Scottá não é tão boa assim: são bem pequenas as chances de 2016 registrar crescimento em volume. “A quebra de até 50% na safra deste ano e a alta de impostos, como o IPI e o ICMS, indicam que o ano será difícil”, afirma Scottá, que está no novo cargo desde meados de janeiro por uma gestão de três anos.

Nas borbulhas, os espumantes tiveram alta de 10,59% no ano, com a venda de 13,8 milhões de litros, e os moscatéis, de 15,83%, com 4,9 milhões de litros. Os dados consolidam a vocação brasileira para este estilo de vinho e apontam no nosso diferencial para as borbulhas mais doces dos moscatos. Nos sucos de uva prontos para consumo, o aumento foi de 30,5%, com o total de 117,7 milhões de litros.

Nos vinhos de mesa, aqueles elaborados com uvas não viníferas, o volume ficou estável, com alta de 0,78%, chegando a 207,6 milhões de litros no ano. Nos vinhos finos, o aumento nas vendas foi de 2,6% em relação a 2014, totalizando 19,8 milhões de litros. Aqui, o melhor desempenho foi dos rosés, com alta de 8%, apesar do pequeno volume de 167 mil litros comercializados em 2015. Os tintos tiveram alta de 4,24% (com o total de 15,3 milhões de litros no ano passado). Nos brancos, houve uma retração de 3%, com a venda de 4,3 milhões de litros.

Em porcentagens, o crescimento dos vinhos finos brasileiros é maior do que nos importados, que tiveram alta de 1,5% em volume, totalizando 80,6 milhões de litros, pelos dados de Adão Morellatto, da International Consulting.

Para 2016, Scottá ainda não arrisca previsões. Ele acredita que a queda na safra deve ser mais sentida nos vinhos de mesa. “Há bons estoques de vinhos elaborados com as variedades viníferas”, afirma. Os impostos também preocupam: não só o IPI, que teve alíquota definida em 10% em dezembro, mas principalmente no ICMS. “A maioria das vinícolas vende por internet e precisa pagar o imposto não apenas do Estado em que está situada como fazer a compensação do ICMS para o Estado em que vendeu o produto”, explica ele. No chamado ICMS da partilha, as vinícolas gaúchas pagam 13% de ICMS, que é a alíquota estadual, e se, por exemplo, vendem para São Paulo, precisam pagar mais 12%, para chegar aos 25% do ICMS paulista.

Outra grande preocupação de Scottá é a procura, pelos importadores, em trazer vinhos de preço muito mais baixo para o Brasil. “Isso pode ser um problema para o setor, ao pressionar os nacionais a terem vinhos muito baratos, o que prejudica a qualidade”, afirma ele. A conferir.