Por Roberto Fonseca

A divisão política – e consequente acirramento de ânimos – que tomou corpo no País nos últimos anos atingiu também o meio cervejeiro. Das já corriqueiras discussões em redes sociais a gritos de guerra contra e a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em um evento ocorrido em setembro na capital paulista, o tema chegou também às garrafas e aos copos.

A marca paulistana Tito Bier produziu, em 2016, dois rótulos com potencial de polêmica: a Marx, uma IPA que homenageia o filósofo alemão Karl Marx; e a Trostky, uma Red Ale inspirada no intelectual soviético Leon Trotsky. Vini Marson, um dos sócios da Tito, conta que a ideia surgiu quando um amigo marxista comemorava aniversário e pediu que eles produzissem a Marx; no ano seguinte, repetiu a dose com a Tito. “Foi um sucesso entre os amigos e amigos dos amigos. Aí nunca mais paramos.”

Segundo ele, a recepção dos consumidores foi mais bem humorada do que odiosa, mesmo entre os críticos. “Nos preparamos muito psicologicamente para isso (reações agressivas), mas nunca foi necessário.” Quando uma blogueira ligada à esquerda postou uma foto da cerveja no Facebook, porém, houve comentários como “cerveja marxista deveria ser gratuita” ou “só muito bêbado para acreditar no socialismo”.

No Paraná, André Soares lançou no ano passado a Impeachment, uma Vienna Lager, com a marca cigana Pé na Porta. Segundo ele, tratou-se de um manifesto contra a corrupção. “Acreditei estar colaborando com a sociedade.” Problemas de produção, porém, fizeram boa parte das garrafas serem retiradas do mercado. “Mas quem recebeu algumas poucas que estavam legais curtiu a ideia e elogiou.” Soares, que hoje tem uma nova marca, a Grimpa, disse que a Pé na Porta foi descontinuada e a Impeachment não deve mais ser produzida. Também em terras paranaenses, foi lançada a marca cervejeira República de Curitiba, alusão aos integrantes da Operação Lava Jato.

Apesar do potencial das marcas de gerar debates intermináveis, me vem à mente uma máxima proferida por um colega: “Show me the beer (mostre-me a cerveja)”. Mais do que posições políticas, é isso que importa no final do dia – e no começo de uma degustação.

Estou bebendo – Oskar Blues Dale’s Pale Ale
Enquanto as marcas nacionais abraçam cada vez mais as latas, chegou ao Brasil uma norte-americana que já adota o formato há anos. A Pale Ale da Oskar Blues tem boas notas cítricas e base de malte moderada. Custa R$ 24 (355 ml) no Empório Alto dos Pinheiros.