O vinhedo Winemaker, localizado bem ao lado da vinícola, e que intera o Lote 43, da Miolo

Por Suzana Barelli

“Atualmente estamos no estágio de inflorescência. Nos próximos dias, ocorrerá o intumescimento dos botões florais e teremos o florescimento”. Assim começava o e-mail de Ciro Pavan, engenheiro agrônomo da Miolo, sobre o vinhedo Winemakers. É o vinhedo que, na sexta-feira do feriado, estava a espera dos alunos da terceira turma de formação de enólogos amadores, promovido pela vinícola gaúcha. Eu sou uma das 23 alunas do curso que ensina a elaborar vinhos para não profissionais, e seguia empolgada para conhecer os demais enólogos de primeira viagem e, também, o nosso vinhedo. Sabia apenas que as vinhas estão plantadas próximas a sede da vinícola, com a variedade tinta merlot. E que na primeira aula (que eu faltei, em agosto) foi feita a poda seca. Durante a viagem até Bento Gonçalves, penso que preciso descobrir o que quer dizer mesmo intumescimento dos botões florais. Inflorescência eu já sei, é o conjunto das flores agrupadas sobre uma planta, prontas para ganharem vida nos vinhedos.

São dois dias e meio de aula, com teoria, prática no vinhedo e muita degustação. A poda verde é o ponto alto desta segunda etapa. Depois de conhecer, na sala de aula, como faz a poda verde, e todas as doenças que podem atacar um vinhedo, os alunos vão a campo cortar as folhas em excesso e algumas uvas para deixar o vinhedo mais sadio e uniforme. É a viticultura moderna, que prova que o menor rendimento por plantas traz vinhos de maior qualidade (para desespero dos colonos gaúchos, que ainda sentem certa dor no coração ao ver a uva ainda verde sendo tirada de seus vinhedos, diminuindo o rendimento da planta).

Em ação: aprendendo a fazer a poda verde

No vinhedo, é fácil entender o mal das folhas e uvas em excesso. Muitas uvas estão escondidas atrás das folhas, quase sem ventilação e espaço para crescer. É território propício a doenças e ataques de pragas. Só não é fácil entender o cálculo do Ciro sobre qual deve ser a superfície de folhas por hectare para que a planta faça sua fotossíntese e cresça saudável (a fórmula é 0,6 m >H/E < 0,8 m).

Com luvas nas mãos, começo a tirar as folhas. Fico na dúvida de quais folhas devem ser postas no chão. Na primeira vinha, tirei folhas a menos. E logo um dos agrônomos da Miolo vem me ajudar. Ele mostra os galhos e as folhas que devem ser preservadas. E arranca folhas com maior rapidez. Logo chega as vinhas de um outro aluno, que tinha podado demais, deixando as uvas mais desprotegidas do sol.

A turma segue na poda, animada, e esperando acertar. Mas o resultado ainda vai demorar para acontecer. Só em março de 2013 voltaremos novamente ao vinhedo, então para a colheita. E, nesta data, espero que no relatório que antecede o terceiro módulo do curso, Ciro Pavan informe que nosso vinhedo encontra-se sadio, com ótima perspectiva de produção. Foi assim que ele terminou sua mensagem desta vez, antes da nossa atuação na poda verde. E, como brinquei com Miguel Almeida, um dos principais enólogos da Miolo, nossa meta é elaborar um vinho tão bom quanto o Sesmaria (o que é quase impossível, sobre este tinto ícone elaborado na Campanha gaúcha), mas, ao menos, com a mesma qualidade do Lote 43, que nasce de uvas deste mesmo vinhedo, plantado com merlot e cabernet sauvignon (a parcela de 0,7 hectare dos Winemakers só tem merlot), no Vale dos Vinhedos. O desafio está lançado.