O enólogo Telmo Rodríguez, que já foi chamado de enfant terrible dos vinhos

Por Suzana Barelli

A Compañia de Vinos Telmo Rodríguez nasceu em 1994, quando os amigos enólogos Telmo Rodríquez e Pablo Eguzkiza criaram o Alma, um tinto elaborado com a garnacha de vinhas velhas em Navarra. Desde o início, os sócios revelaram uma preocupação crescente em trabalhar com uvas autóctones e em recuperar a história de vinhos antigos, como o Molino Real, em Málaga. Hoje, eles elaboram brancos e tintos nas regiões de Ribera del Duero, Toro, Cigales, Rueda, Rioja, Alicante, além de Málaga e Navarra. Rodríguez, o mais falante da dupla, chegou a ser apelidado como o enfant terrible pela imprensa internacional por suas ideias. Na entrevista a seguir, ele conta sobre a tendência de vários produtores voltarem a elaborar vinhos como antigamente, seja em ânforas, em tanques de concreto, entre outros. Confira:

Como você elabora os seus vinhos?
Nossa abordagem é simples e sofisticada ao mesmo tempo. Nosso real desafio nos últimos 20 anos é tentar encontrar vinhedos realmente excelentes. Acreditamos que este é o melhor jeito de ter certeza que seremos bem sucedidos na vinificação. Estudamos muito nossas uvas para tentar entendê-las, como sabendo como uma criança é e compreendendo o que pode ser bom para ela. Levamos muito tempo antes de pensarmos que o vinhedo está pronto para produzir um excelente vinho. Como não usamos nenhuma técnica ou produto bizarro, realmente trabalhamos duro para decidir quando devemos colher e quando devemos terminar a vinificação. Depois isso, os vinhos vão envelhecer de uma maneira natural, com o tempo necessário para obter este amadurecimento, sempre usando os processos locais.

Em que recipiente – tanques, ânforas, barricas – são vinificados seus vinhos?
Sobre utilizar diferentes recipientes durante a fermentação, é verdade que a gente utiliza muito cimento, madeira, ânforas. Gostamos do contato com os elementos naturais desde o começo. Mas isso não é exatamente tão importante, é apenas um bom detalhe. Na Rioja, por exemplo, construímos uma vinícola com tanques de cimento. É como as pessoas da região elaboram os vinhos há séculos e nós gostamos da maneira como o concreto interage com as nossas uvas. É tão natural e apropriado, mas o recipiente nunca é o responsável pelo gosto do vinho. Não nos importamos com o uso de tanques de aço inoxidável, e usamos quando necessário.

Qual a sua opinião sobre as ânforas?
Usamos as ânforas em nossa primeira vinificação em Cebreros (Ávila). Nós usamos porque era o único recipiente utilizado no vilarejo. Isso foi em 1998 e não estávamos muito conscientes sobre as ânforas. Depois, compramos algumas ânforas em 2005. Elas estavam abandonas e, claro, foram baratas. Desde aquela época, ficamos muito impressionados pelo jeito que a fermentação acontecia naqueles recipientes. O formato era importante. As cascas, por exemplo, ficam na parte mais larga da ânfora, a temperatura é controlada, mesmo sem qualquer ajuda externa, como uma mágica. Os bons resultados obtidos nos fizeram, alguns anos depois, decidir envelhecer os vinhos em ânforas e estamos realmente indo bem. Por isso, trabalhamos com as ânforas, mas não lhe damos muito destaque.

E os tanques de concreto em formato de ovo, que muitas vinícolas estão experimentando e tecendo bons elogios?
Estamos utilizando alguns tanques de concreto neste formado. Eles são engraçados e nos ajudam a fermentar e a envelhecer os vinhos brancos, que precisam de mais tempo. Estes tanques são uns brinquedos.

Como o senhor analisa a tecnologia do vinho?
A moderna enologia é recentíssima. Chegou em Bordeaux nos anos 1950. Os enólogos aprenderam depois de muito observar o processo de elaborar os vinhos e, então, minha geração é filha destas pessoas talentosas. A tecnologia moderna é muito importante para os vinhos comuns. Como eles são normais, às vezes, regulares, eles precisam estar pelo menos limpos. Quando mais uma região é ruim para os vinhos, mais ela precisa de tecnologia para produzir bons vinhos.