06/08/2013 - 16:16
Por Suzana Barelli
O argentino Nicolás Catena, dono da vinícola Catena Zapata, será homenageado hoje em São Paulo, em um jantar de gala, promovido por seu importador, Ciro Lilla, dono da Mistral. É uma homenagem mais do que justa para este personagem que mudou a história do vinho de qualidade em seu país. Catena já foi eleito o homem do ano pela revista inglesa Decanter, em 2009, recebeu o título de “Distinguished Service Award” pela Wine Spectator. Robert Parker, o principal crítico de vinhos norte-americano, o definiou como “um dos maiores visionários do mundo do vinho nos últimos 25 anos”.
A história começa nos anos 1980, quando Catena, formado em economia, vai trabalhar como professor visitante da Universidade de Berkeley. Morar na California era uma maneira de se distanciar da ditadura militar, que reinava na Argentina, e ter uma atividade diferente de sua família – o avô, de quem Nicolás herda seu nome, migrou para a Argentina em 1898 e, em 1902, plantou sua primeira vinha de malbec, em Mendoza, tradição desde então mantida pela família.
Impressionado com o que conheceu sobre os vinhos californianos, ele decidiu mudar o foco dos negócios dos Catenas, ao voltar a seu país. Vendeu a vinícola da família que fazia vinhos de mesa e ficou apenas com a Bodegas Esmeralda, que elaborava vinhos finos. Ao saber que o norte-americano Paul Hobbs estava no Chile, convenceu o então promissor enólogo a cruzar a Cordilheira dos Andes. A maneira que Hobbs conta esta história é divertidíssima, falando dos “caracoles” (como são apelidadas as curvas da estrada) pelos Andes. Ele narra seu temor que o carro não fizesse todas as curvas, ao mesmo tempo em que se encantava com a paisagem. Hobbs aceitou o trabalho e não foi o único. Catena soube unir profissionais de qualidade – Pedro Marchevsky, por exemplo, foi seu principal viticultor e José Galante (hoje na vinícola Salentein), seu enólogo.
Catena decidiu focar em qualidade, principalmente com as uvas chardonnay (nas brancas) e cabernet sauvignon (nas tintas). Lembro, numa das primeiras entrevistas que fiz com ele, de Catena defender muito mais a cabernet do que a malbec. Ele só se convenceu do potencial da cepa – que o seu pai, seu Domingo, adorava – quando descobriu os vinhedos de altitude. A altitude, dizia ele, permite domar a piracina da cabernet – uma das substâncias da uva, que dá aquele toque mais herbáceo.
Nestas quase quarto décadas, Nicolás aprendeu a trabalhar os pequenos microclimas para definir seus vinhedos de altitude. E aprendeu também a vinificar a malbec – hoje, um dos melhores vinhos do país é o Malbec Argentino, elaborado pela equipe de Nicolás. Aqui, Catena soube ouvir sua filha Laura, sua sucessora. Em 2001, ela passou a liderar o programa de pesquisas e desenvolvimento da vinícola, que fez (e ainda faz) diversos experimentos com clones, vinhedos de altitude, formas de vinificação. Hoje, Laura divide-se entre os Estados Unidos (ela é médica) e a Argentina e é a vice-presidente da vinícola.
Nesta história, acompanhada de perto pelos consumidores brasileiros (a Argentina é o segundo maior exportador de vinhos para o nosso país), a homenagem é justa. Justíssima!