29/08/2013 - 13:07
por Suzana Barelli
Há anos que escrevem a história de certos vinhos. No caso do Mouchão, um dos ícones do Alentejo, 1974 e 1996 são duas datas cheias de significados. A primeira é a última safra elaborada antes da Revolução dos Cravos, que expropriou a propriedade da família Reynolds. Algumas garrafas sobreviveram a invasão por mérito do adegueiro, João Alabaça. “Ele explicava que o vinho não estava pronto, tentava negociar e acabou salvando alguma coisa”, afirma John Fordyce, diretor da Herdade do Mouchão. Este tesouro só foi descoberto depois de 1985, quando os Reynolds conseguiram reaver a herdade e voltaram a investir em seus 888 hectares, 38 deles cultivados com vinhedos.
Como a propriedade foi praticamente abandonada nestes dez anos, foi preciso replantar a Vinha dos Carapetos, um terreno considerado excepcional para a alicante bouchet, uva de origem francesa, mas de alma portuguesa, e a trincadeira. E é exatamente este vinhedo de microclima único, pelos rios que passam em suas fronteiras, que justifica a segunda data importante.
Em 1996, o enólogo Paulo Laureano elaborou pela primeira vez o Mouchão 3-4. O vinho nasceu da constatação do enólogo de que os tintos que envelheciam nos tonéis de número 3 e 4 eram sempre melhores que os demais. Laureano foi pesquisar o que acontecia e descobriu que a alicante bouschet dos Carapetos envelhece melhor nestes tonéis, que foram feitos com carvalho português e com a brasileira macacauba. O primeiro tinto 3-4 lançado foi o de 1996. O tinto só é elaborado em anos excepcionais – até hoje foram feitos o 1999, 2001, 2003, 2005 e 2008, além do 1996.
E foram estes dois vinhos, com garrafas trazidas na mala por Fordyce e por David Marques Ferreira, diretor comercial da Herdade, que foram degustadas no lançamento da safra 2008 do Mouchão, em Sao Paulo. O Mouchão 3-4, de 1996, mostra o potencial de guarda deste tinto; o que o Mouchão 1974 só fez confirmar: com ricos aromas de evolução, o vinho se mantém vivaz, com acidez.
Servidas em conta gotas, as duas safras apresentam bem os dois vinhos de 2008 – no Mouchão, seus aromas de frutas vermelhas, com taninos austeros, elaborado com alicante bouschet e trincadeira. O 3-4 é mais elegante, com taninos mais finos, apesar de potente. Está pronto para beber agora, para quem aprecia estes tintos mais frutados, mas quando se prova os mais antigos, o convite é deixar o tinto ganhar complexidade com os anos de guarda.
O Mouchão é importado pela Adega Alentejana. A safra 2008 custa R$ 224 (Mouchão) e R$ 485 (tonel 3-4). Informações em www.adegaalentejana.com.br