Por Marcos Marques

Se o sabor de cada vinho é enriquecido com a história de onde ele foi produzido, poucos rótulos podem ser considerados tão especiais quanto os da montanhosa e peculiar região da Ligúria, no noroeste da Itália.

Sua capital, Gênova, é conhecida como o berço dos grandes marinheiros da época romântica da navegação, a começar pelo seu filho mais famoso, Cristóvão Colombo. Esses desbravadores traziam de volta para casa mercadorias de todas as partes do mundo, incluindo videiras. Elas começaram a ser replantadas nas imensas escarpas que desaguam no Mediterrâneo e algumas famílias se aventuraram a fazer a colheita de forma manual – uma verdadeira façanha, considerando-se condições tão adversas.

Devido à dificuldade de acesso a essa área da Itália, feito durante muitas décadas exclusivamente pelo mar, o saboroso resultado de todo esse esforço permaneceu quase desconhecido fora do país durante um tempo considerável. Hoje, os vinhos da Ligúria, que representam 2% do total de vinhos produzidos na Itália, possui quatro Denominações de Origem Controlada, os chamados DOCs: Colli di Luni, Dolceacqua, Riviera Ligure di Ponente e Cinqueterre Sciacchetrà.

A costa da Ligúria é dividida em Ocidental e Oriental, e isso vale para os vinhos também. Na Costa Oeste encontramos variedades e técnicas semelhantes às do Piemonte, onde vinhos mais jovens descansam em barricas de aço e tem a fermentação com temperatura controlada, enquanto na Costa Leste elas são semelhantes às da Toscana, onde os vinhos de guarda descansam em barricas de carvalho francês. A uva mais comum é a Vermentino, seguida por Albarola, Pigato e Sangiovese e seus vinhos acabam adquirindo muita mineralidade, em razão da permanente exposição ao mar da Ligúria (que faz parte do Mediterrâneo) – tanto a proximidade quanto a brisa garantem essa característica.

Os limites da Ligúria ficam ao sul com o mar Lígure, a oeste com a França, a norte com o Piemonte e com a Emília-Romagna, e a leste com a Toscana, região de destaque onde a produção de vinhos floresce desde a Idade Média. Ali, famílias produzem vinhos há mais de 300 anos em propriedades como a que serviu de locação para o filme “Irmão Sol, Irmã Lua”. O longa de Franco Zeffirelli narra a vida de São Francisco de Assis e várias cenas foram ambientadas no local onde se produz um dos ícones da enologia italiana, como o Chianti Colli Senesi Caulio e o Vigna del Sole, batizado pelo próprio cineasta.

Alguns vinhos da Ligúria encontrados no Brasil são trazidos pela importadora L’aretuseo, como o Riviera Ligure di Ponente D.O.C., branco do produtor Rosadimaggio (Arrigoni Wine Family) feito 100% de uva pigato (R$ 193); e o Vigna del Prefetto Colli di Luni D.O.C., outro branco do Rosadimaggio, mas elaborado com as uvas vermentino (95%) e rosses di arcola (5%), por R$ 199.

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)