por Suzana Barelli

Paul Hobbs é um nome que dispensa apresentações no mundo de Baco. Enólogo norte-americano com vários prêmios em seu currículo internacional, ele elabora seus próprios vinhos em seu país – tem as vinícolas Paul Hobbs e CrossBarn, na Califórnia e um projeto de riesling em Finger Lages – e é sócio de outros três vinhedos, o Crocus, em Cahors, na França, o Yacoubian, na Arménia, e a Viña Cobos, na Argentina, além de mais de 30 consultorias na área. É o projeto argentino que o traz ao Brasil nesta semana, para lançar um malbec ícone nesta segunda (10) no Rio de Janeiro, e terça (11), em São Paulo. O Cobos Malbec Chañares 2014, importado pela Grand Cru, será vendido por R$ 2.349.

Ainda na Califórnia, se preparando para a viagem pela América do Sul, Hobbs foi entrevistado para uma reportagem que eu escrevi para a revista IstoÉ Dinheiro dessa semana (leia a íntegra aqui). Além da reportagem, vale ler a íntegra da entrevista.

O senhor vem ao Brasil para lançar o Cobos Malbec Chañares 2014. Com descreve esse vinho?

É um vinho que fala do novo que está acontecendo na Argentina e reflete, fundamentalmente, a expressão de nosso vinhedo Chañares, combinado com nossa paixão inesgotável pela busca por novos terroirs. É um vinho onde podemos encontrar aromas de frutas negras, notas terrosas que recordam muito o terroir. Em boca é amplo, de grande intensidade, que destaca a sua elegância.

O vinho será elaborado todos os anos?

Ainda é cedo para responder, é a primeira safra. De todas as maneiras, a nossa filosofia é elaborar o vinho apenas nos anos em que as uvas alcançarem a qualidade desejada.

O senhor já elabora um outro Cobos Malbec, com uvas do vinhedo Marchiori. Quais as diferenças entre o Cobos Chañares e o Marchiori?

O processo de vinificação é o mesmo, a diferença está, fundamentalmente, no terroir. Solos…. Os dois são vinhos excepcionais. No Marchiori, encontramos muita complexidade aromática, notas especiadas, bom volume em boca e taninos muito sedosos. Chañares é mais fresco, de grande intensidade, com muita persistência em boca e taninos firmes, de grãos muito finos.

Seu novo vinho tem um estágio de 17 meses em barrica de carvalho. Como o senhor analisa a tendência de produzir vinhos com menor tempo em barricas?

O desafio é entender o equilíbrio entre o vinho e a madeira. Elaborar vinhos excepcionais, entendendo a conexão que existe entre a madeira e a fruta requer um grande conhecimento técnico e experiência. O tempo de madeira tem a ver com o desenho do vinho e sua concentração. Cobos Malbec Chañares tem uma concentração polifenólica singular, que permite se colocar sempre acima da madeira.

O senhor acredita que a malbec é a melhor uva para os vinhos argentinos? Por quais razões?

Sem dúvida, a nossa variedade emblemática é a malbec. Também cabe mencionar o nosso cabernet sauvignon, o qual estamos trabalhando desde nosso começo com a mesma intensidade e paixão que temos com o malbec, com resultados extraordinários. Essa variedade, junto com a cabernet franc, tem um enorme potencial na Argentina. Também temos elaborados chardonnay excepcionais e estou convencido que a Argentina estará no nível das melhores regiões vitivinícolas do mundo.

O senhor acredita que os melhores vinhedos são os cultivados em qual altitude, em relação ao nível do mar?

Nossa busca está focada em vinhedos equilibrados e balanceados. Isso determina vinhos harmoniosos e elegantes. Para isso, necessitamos de vinhedos únicos, não apenas falando em altura, mas também no que se refere ao solo e ao microclima particular. Nós não trabalhamos com alturas extremas para os nossos vinhos, trabalhamos com vinhedos cultivados entre 900 e 1.200 metros de altura do nível do mar.

Em entrevistas anteriores, o senhor me disse que a Argentina precisa elaborar um cabernet sauvignon ícone para se posicionar como um dos grandes nomes do mundo do vinho. O senhor ainda acredita nisso?

Todos sabemos que malbec, na Argentina, é o rei. Mas, pessoalmente, sou muito otimista sobre o futuro da cabernet sauvignon. Em primeiro lugar, a cabernet consegue os melhores prêmios entre os vinhos que são amplamente consumidos a nível mundial. Por isso, é um vinho que atua como ponto de referência. Além disso, é um varietal internacional, que tem poder no mercado. O cabernet tem esse tipo de potencial: tem a força de Bordeaux e de Napa. Na minha opinião, o futuro da Argentina está em ser o terceiro lado desse triangulo. Os outros dois já estão estabelecidos. Ser um terceiro não me parece nada mal. E temos todas as condições para isso: o clima, o chamado terroir. Só nos falta a vontade de fazê-lo. E podemos conquistar esse lugar por dois motivos: primeiro pelas características de nosso terroir e segundo porque podemos produzir um cabernet sauvignon de alta qualidade com volume. E não conheço nenhum outro lugar do mundo em que isso é possível.