Por Míriam Aguiar

Thierry Julien (foto), proprietário da Domaine Mas Janiny, elabora vinhos orgânicos desde 1989, no Languedoc, sul da França. Entusiasta do tema, há 19 anos ele também organiza a Millésime Bio, evento francês sobre o tema, retratado nas páginas da Menu de março. A seguir, algumas de suas ideias.

O senhor preside a associação responsável pela produção do primeiro salão do vinho bio no mundo. Fale um pouco sobre isso. O salão começou 20 anos atrás, bem pequeno, e se desenvolveu em grande parte pelo fato de que na nossa região, o Languedoc, elaborar vinhos bio não é muito difícil. Temos um clima que é apropriado, e este é um fator importante. Ao longo dos anos, mantivemos a mesma essência do evento, que é de valorizar o vinho bio e, a cada edição, introduzimos novidades. Neste ano, por exemplo, exigimos do produtor ter o registro legal europeu AB (sigla para agriculture biologique) e que criamos uma área de degustação de todos os vinhos, dividida por países de origem, onde o visitante pode degustá-los diretamente e mais facilmente.

Por que vários vinhos orgânicos franceses trazem a indicação AB (agriculture biologique) de forma discreta no rótulo e eles não são colocados separadamente na prateleira, como acontece com outros produtos bio na França?

Porque achamos que ter um vinho bio é importante, mas também é importante ser um bom vinho. Não é porque o vinho tem o selo AB que é bom e não devemos comunicar o consumidor de forma enganosa. Destacar a menção não enfeita o vinho. Temos outras qualidades, nossa personalidade para apresentar também.

Apesar dos benefícios do consumo e produção dos vinhos bio, o preço ainda é um problema neste segmento?

Penso que os vinhos do Languedoc bio estão bem posicionados em relação ao preço, melhor que outras regiões da França. O vinho espanhol é um pouco mais barato e o italiano é mais caro. O vinho bio é em média 30% mais caro que o convencional. Nosso desafio é fazer o consumidor entender que nosso custo de produção é mais alto. Sobre o gosto, podemos dizer que o vinho bio é um vinho de terroir, que não recorremos à tecnologia, à química para maquiá-lo. E que o terroir se exprime melhor num vinho biológico.

Um dos objetivos do Millésime Bio é apresentar os vinhos a novos importadores. Mas com transportar estes vinhos, que são elaborados com menos conservantes?

Há cinco anos o público era europeu, mas agora o mercado se desenvolve muito no Canadá, na Ásia, como Japão e China e no resto do mundo. Pode-se transportar bem o vinho, mas é necessário ter um cuidado especial com a temperatura. O bio é um vinho “vivo”. Precisamos de uma adição mínima de sulfito para conservá-lo.

Sabe-se que o clima mediterrâneo é adequado à produção de vinhos orgânicos. Por que a produção de vinhos bio vem crescendo em regiões menos propicias a sua elaboração?

O clima mediterrâneo torna mais fácil fazer o vinho bio, porque tem menos chuva do que em regiões como Borgonha ou Bordeaux. Mesmo na Alsácia, que é muito chuvosa, há muitas produções bio. O que justifica esse esforço de conversão é a demanda do consumidor. Quanto mais percebemos as catástrofes ecológicas, mais nos direcionamos às produções bio. Além disso, o vinho bio rejuvenesce a cadeia do vinho em geral, porque os jovens dão mais importância aos produtos bio.