01/03/2019 - 8:00
por Suzana Barelli
“Hear me roar”, ou na tradução literal do inglês, ouça-me rugir. Tão masculino, para quem pensa nos imponentes leões em suas selvas; mas tão feminino, quando o convite é escutar as demandas das mulheres, também no mundo do vinho. A expressão (ou o pedido) é o nome de um novo vinho australiano, elaborado apenas por enólogas, com o objetivo de financiar a carreira de mulheres na indústria do vinho na Austrália.
E é com a história deste vinho que eu começo a minha segunda série sobre as mulheres e o vinho (*). Se no passado o universo do mundo era notadamente masculino, esta realidade vem mudando pouco a pouco e há (ao menos na minha opinião) boas histórias, vinhos e conquistas de mulheres para contar neste fascinante universo de brancos e tintos.
O projeto australiano nasceu na safra de 2018, dentro da associação Women in Wine Awards. A shiraz foi a variedade escolhida para elaborar o vinho, que acabou de ser engarrafado. Quatro conceituadas enólogas do país participaram da sua elaboração: Sue Hodder, da Wynns Coonawarra Estate; Emma Norbiato, da Calabria Family Wines; Rebekah Richardson, da Irvine Wines, e Corrina Wright, da Oliver’s Taranga.
Segundo a Women in Wine Awards, desde 2015 a organização defende a igualdade de gênero na indústria do vinho e celebra as conquistas das mulheres no setor vitivinícola, mas há muito mais a fazer. A venda do tinto é uma forma de conseguir recursos para financiar estes projetos. Pelo site, a venda mínima é de seis garrafas, por 180 dólares australianos.
(*) As mulheres e o vinho em 2018
Durante todo o mês de março do ano passado, eu postei aqui as mais diversas histórias de mulheres no mundo do vinho. Ao todo, foram 23 textos de personalidades e épocas diferentes. Adorei pesquisar e conhecer mais sobre estas pessoas e seus desafios. Confira, a seguir, quais foram estas mulheres.
– Dona Antónia Ferreira, a querida dona Ferreirinha, que tanto fez pela região do Douro e, por que não, por Portugal
– Barbe-Nicole Clicquot, mais conhecida como a Veuve Clicquot
– Jancis Robinson, a inglesa mais influente do mundo do vinho com o seu www.jancisrobinson.com
– Laura Catena, a argentina que investe nas pesquisas para conhecer e elaborar vinhos de qualidade, na vinícola Catena Zapata
– Lalou Bize-Leroy, a polêmica e competentíssima produtora da Borgonha
– Serena Sutcliffe e os leilões de vinho
– Maria Luz Marín, a chilena pioneira no vale de San Antonio, no Chile.
– Mônica Rossetti, brasileira que atualmente trabalha na Itália. Ela tem papel primordial na história da vinícola gaúcha Lidio Carraro
– Natasha Bozs, uma das primeiras enólogas negras da África do Sul, da Nederburg
– Elena Walch, a arquiteta que virou enóloga e hoje tem sua própria vinícola no Alto Adige
– Véronique Drouhin-Boss, a francesa da quarta geração da domaine Drouhin
– As associações de mulheres e vinhos já existem em 10 regiões francesas
– Lorenza Sebasti, proprietária da vinícola italiana Castello di Ama
– Fabiana Bracco, da Bracco Bosca, que tanto faz pelo vinho uruguaio que pode ser considerada a embaixadora do país
– A portuguesa Filipa Pato, dos vinhos da Bairrada
– Lis Cereja, a brasileira que mais e melhor levanta a bandeira do vinho natural no Brasil
– Féminalise, um concurso de vinhos francês que só tem juradas
– Albiera Antinori, a primeira mulher a dirigir a tradicional vinícola italiana
– Susana Balbo, a pioneira nos vinhos argentinos
– Cecília Torres, a primeira mulher nos vinhos chilenos com o Casa Real
– Ludivine Griveau, que dirige os vinhos do Hospice de Beaune, na Borgonha
– A dupla de amigas e enólogas portuguesas Sandra Tavares e Susana Esteban
– Patricia Atkinson, e a sua aventura de elaborar vinhos franceses