por Romeu e Julieta*

Se fizermos uma retrospectiva da cozinha espanhola de vanguarda que desembarcou em São Paulo nos últimos anos, o resultado final será devedor – é só nos lembrarmos do eñe e da primeira fase do Clos de Tapas. Por isso, ao saber que o novo Tanit, aberto nos Jardins no fim de abril do ano passado, é chefiado por um chef catalão, com passagens pelos espanhóis el Bulli e El Celler de Can Roca, eu, Romeu, fiquei receoso com o que sairia da cozinha. Mas o que Oscar Bosch oferece vai exatamente de encontro com os desejos do paulistano.

O couvert com pães, maionese de alho e pimentão com berinjela. A
O couvert com pães, maionese de alho e pimentão com berinjela. A

O Tanit acolhe bem o cliente com o ambiente clean e aconchegante. Paredes cobertas por tábuas de madeira clara, cadeiras e estofados em tons crus e azuis, jogo americano de papel e louça de cerâmica rústica compõem o ambiente descontraído. Ao fundo do pequeno salão estão o bar e a cozinha envidraçada e, no alto, nota-se a grande adega que fica no andar superior.

Assim como boa parte dos novos restaurantes contemporâneos, o cardápio é enxuto, mas muito bem resolvido. “Aqui conseguimos notar a influência espanhola do chef”, comenta Julieta. A começar pelo couvert, com pães artesanais acompanhados de saborosa maionese de alho e pimentão e berinjela na brasa (R$ 15**). Depois vieram as bravas bravíssimas (R$ 24**), uma das tapas da casa, para dividir. Crocante por fora, as pequenas batatas, recheadas de molho de tomate cremoso e picante, foram cobertas por um ragu de chorizo espanhol, que as deixaram suculentas.

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Ainda remetendo à origem ibérica, muitos arrozes, pescados e frutos do mar desfilam pelo cardápio, mas passam longe da cozinha tecnoemocional. E há outros preparos além da fronteira espanhola, para contentar todos os gostos, como o ravióli de cogumelos ao molho de funghi porcini e lagostins grelhados (R$ 52**), escolha de Julieta como prato principal. “Surpreendeu pela leveza da massa, pelo sabor do recheio e o ponto perfeito do crustáceo. Só poderia ter menos molho, para ficar mais equilibrado”, comentou minha companheira. Depois descobrimos pelo prestativo garçom que pancetta também fazia parte do recheio do ravióli, que fez a diferença (positiva) no prato.

Já o meu principal, o leitãozinho crocante cozido em baixa temperatura, com texturas de cenoura (assada e purê), chutney de repolho roxo e maçã (R$ 62**), foi sugerido pelo garçom: “Um cliente espanhol disse que nunca havia comido um leitão nessa qualidade fora do seu país”, nos avisou. E ele estava certo: a carne estava tenra e a parte superior “pururucada”, com redução do molho do cozimento do porco e o chutney bem condimentado e doce. Para mim, só faltou algo mais ácido para equilibrar os intensos sabores.

Nos despedimos do Tanit com a delicada musse de queijo com farofa de pistache e sorbet de framboesa (R$ 22**),que só nos deu a certeza de uma volta ao restaurante. “É um espanhol que veio para ficar”, opinou Julieta.

Tanit

rua Oscar Freire, 145 – Jardins (veja no mapa)

(11) 3062-6385 – São Paulo – SP

restaurantetanit.com.br

 

* Reportagem publicada na edição 208. E Romeu e Julieta formam o casal de críticos anônimos da Menu

** Os preços podem ter sofrido alterações