por Suzana Barelli

Com aparência meio hippie em pleno século 21, o francês Philippe Pacalet é conhecido por seus vinhos naturais, que elabora de maneira orgânica, sem a utilização de agrotóxicos e demais produtos químicos. São vinhos puros, feitos de acordo com a cartilha de um produtor preocupado com a natureza. Com este currículo, era de esperar que ele fizesse uma defesa veemente sobre os perigos do aquecimento global.

Mas em passagem por São Paulo, onde aproveitou para mostrar a safra 2010 de seus tintos, ele disse acreditar que a natureza é cíclica, o que explica certos picos de calor, e não crê no aquecimento global. “A natureza está sempre nos desafiando e isso é cíclico”, afirma ele, para completar: “o que temos é de ter a mente aberta para entendê-la”.

Um exemplo, diz Pacalet, foi a sua decisão de colher a pinot noir em plena chuva, duas safras atrás. Normalmente, os produtores fogem da chuva, e adiantam a colheita, porque a água chega às raízes das videiras e logo de transforma em alimentos para seus frutos, deixando a uva mais diluída, menos concentrada. Mas Pacalet diz que em 2013 a chuva ajudou a evitar que a uva se desidratasse. No vinhedo, uma das atenções atuais de Pacalet estão nos insetos. Há espécies novas sobrevoando as vinhas e isso, diz ele, requer observação e mente aberta.

Em tempo: no jantar, harmonizado com receitas de Pier Paolo Picchi, foram servidos três tintos de Pacalet: o Pommard, o Chambolle-Musigny 1er Cru e o Charmes-Chambertin Grand Cru, todos da safra de 2010. Sem dúvida, o Charmes-Chambertin era o mais complexo, mas ainda precisa de tempo na garrafa. O Chambolle-Musigny estava delicioso, e parecia o mais feminino da noite. Não foram abertos brancos porque, diz o produtor, seus brancos precisam de mais tempo, uns sete anos, para começar a mostrar o seu potencial. Os vinhos de Philippe Pacalet são importados pela World Wine.