23/04/2016 - 10:25
por Pedro Marques*, de Bruxelas**
É inevitável pensar em cerveja e chocolate quando se fala da Bélgica. Os dois produtos são os carros-chefe do país que faz fronteira com a Alemanha, a França e a Holanda. Mas, como se fala em um popular comercial de televisão: “E não é só isso!” A cozinha belga tem algumas surpresas, como os super cremosos croquetes de queijo e os de camarões cinza, capturados no Mar do Norte e que aparecem em outras receitas locais, como os tomates recheados com camarões e maionese. Pratos como o waterzooi (cozido de frango ou peixe com legumes, creme de leite e ovos) e a carbonade flamande (uma espécie de boeuf bourguignon, mas preparado com cerveja) são algumas amostras de uma cozinha reconfortante e saborosa.
Outra especialidade belga difícil de ser ignorada são as batatas fritas. Livros de receitas do século 18 indicam que a receita já era preparada por lá desde 1680 e essa tradição se traduz nas friteries, lugares especializados em servir as batatinhas, sempre acompanhadas por algum molho – os mais populares são maionese e ketchup. As famosas fritas também são o par perfeito para os mexilhões cozidos em molho de vinho branco, manteiga e ervas, o moules et frites: você come os mexilhões e as batatas são mergulhadas no caldo em que os frutos do mar foram preparados. Descubra a seguir alguns lugares imperdíveis para conhecer por lá, entre bares, cervejarias, lojas de chocolate e restaurantes. E, na página 65, você aprende a fazer duas receitas belgas: o moules et frites e a bochecha de boi cozida em cerveja com cerejas.
Beba bem
A Bélgica tem mais de 300 cervejarias e é possível programar uma viagem inteira só para conhecer as fábricas. Conheça alguns destaques
Cantillon
A mais antiga cervejaria em funcionamento da capital belga, fundada em 1900 (foto acima). Produz geladas de fermentação espontânea, do estilo Lambic. Segundo Berto Carduus, responsável pelas visitas à fábrica, que fica fora do centro turístico bruxelense, é no telhado que residem os mais de cem micro-organismos que conferem os sabores únicos – ácidos e amargos – dessa cerveja. Lá é possível provar rótulos especiais, como a Grand Cru Bruocsella, envelhecida por três anos em barril de carvalho, e comprar souvenires. cantillon.be
Brussels Beer Project
Instalada em um antigo bairro industrial de Bruxelas, o projeto é tocado por Sébastien Morvan e seus colegas, que produzem geladas de estilos mais modernos, como uma IPA mais lupulada e outras não tão populares entre os belgas. beerproject.be/en
De Halve Maan
No centro histórico de Bruges, fica essa espaçosa cervejaria, que oferece tours de 45 minutos a suas instalações e também abriga um pub e um restaurante. Ali são servidas as geladas Brugse Zot Blond e Dubbel e as Straffe Hendrik Tripel e Quadruple, bastante conhecidas na Bélgica. Mas vale a pena mesmo provar a Straffe Hendrik Wild, uma versão da Tripel que é refermentada com a levedura Brettanomyces e é engarrafada apenas uma vez por ano. halvemaan.be
Mundo doce
Espere encontrar também várias lojas de chocolate espalhadas pelas cidades belgas. As duas a seguir são para aqueles que amam o doce feito com cacau – e estão dispostos a pagar um pouco mais por eles
Leonidas
Com lojas espalhadas por várias cidades belgas, tem preços mais em conta e pode ser considerada uma chocolateria “popular”. Não que isso seja um problema, são deliciosos. Os bombons Manon Café, com chocolate branco creme de café e avelã estão entre os mais pedidos pelos belgas. leonidas.com
Mary
Fundada por Mary Delluc em 1919 na Rue Royale, centro de Bruxelas, produz uma extensa (e cara) linha de chocolates feitos à mão. A qualidade das criações da marca foi reconhecida em 1942, quando a Mary (foto abaixo) foi escolhida como fornecedora oficial de chocolates ao rei da Bélgica, título que mantém até hoje. mary.be
Bares e restaurantes para visitar
Nesses lugares é possível ter uma amostra das especialidades gastronômicas e cervejeiras do país
In De Vrede
Ir à Bélgica para tomar as cervejas Westvleteren 8 e 12, apontadas entre as melhores do mundo por vários guias e sites especializados, é praticamente uma peregrinação cervejeira. Elas são produzidas e vendidas na abadia de Sint Sixtus, que é fechada para visitantes, e comprar as garrafinhas diretamente dos monges (elas chegam a ser vendidas por até R$ 200, cada, no Brasil) é bastante complicado para turistas. O café In De Vrede, bem em frente, na cidade de Westvlteren, é uma opção mais viável: além do espaço interno há um confortável jardim onde é possível saborear todas as variedades da gelada. Além de lembranças para os cervejeiros, a loja do café costuma vender as concorridas garrafinhas, mas é comum o produto estar em falta até mesmo por lá. indevrede.be
Aux Armes de Bruxelles
Aberto em 1921, é um dos restaurantes mais tradicionais da capital da Bélgica. Próximo à Grand Place, a principal praça de Bruxelas, tem um salão refinado com vistosos candelabros e serve clássicos da cozinha local, como moulles et frites (mexilhões com fritas), os croquetes de camarão e queijo ou as enguias em molho verde. auxarmesdebruxelles.com
Moeder Lambic
Para quem gosta das fermentadas espontâneas do estilo Lambic, há duas unidades desse bar, uma no centro e outra no bairro de Saint Gilles, em Bruxelas. O dono, Jean Hummler, é um entusiasta das cervejas azedas e aposta em raridades que podem custar tanto quanto um bom vinho, como 3 Fonteinen Armand 4’ Winter, que custa 100 euros a garrafa. moederlambic.com
Les Brigittines
Espere encontrar várias receitas de acento francês no restaurante comandado pelo chef Dirk Myny, na capital belga. O destaque, porém, são as receitas preparadas com cervejas, como o ballotine de foie gras de pato cozido em Zinnebir (do estilo Belgian Pale Ale) ou a bochecha de vitela braseada por 4 horas em cerveja Kriek, que leva cerejas azedas, e a receita você confere na página 65. lesbrigittines.com
* Reportagem publicada na edição 203 da Menu
** o jornalista viajou a convite da VisitFlanders