por Suzana Barelli, da Cidade do Cabo

A enóloga Natasha Boks foi o que mais me chamou atenção na minha segunda visita à África do Sul, realizada em meados de setembro. Na primeira viagem, em 2004, com o país recém-saído do regime do apartheid e temeroso de não conseguir terminar as obras para a Copa do Mundo, o universo do vinho era um campo para os brancos. Não apenas nos vinhos – por mais que os brancos, com variedades como sauvignon blanc, chardonnay, semillon e chenin blanc, eram e continuam a ser boas pedidas sul-africanas. Na época, minha principal observação era que tinha viajado para a África, provado bons vinhos, mas não tinha visto nem negros, nem leões ou elefantes.

Dessa vez, vi leões, elefantes e zebras em um safári bem turístico próximo à Cidade do Cabo. E a primeira enóloga a apresentar seus vinhos foi a Natasha, no programa de visitas da Distell para preparar o espírito para a 42a edição do leilão da Nederburg, realizado nos dias 17 e 18 de setembro e com arrecadação recorde de 7.593.200 rands (pouco mais de R$ 1,8 milhão). Natasha é simpática, sorridente, competente e negra. Ela chegou como estagiária na Nederburg em 2008 e, desde 2013, é a enóloga responsável pela linha de brancos dessa enorme vinícola.

A jovem Natasha fala com propriedade e sinceridade dos seus vinhos. Primeiro, nem hesitou em criticar a pinotage, a variedade, teoricamente, emblemática do país, mas que não é uma unanimidade entre os enólogos locais. Ela nunca provou um pinotage que a emocionasse, confessou. E na relação de rótulos escolhidos para a degustação com o grupo de jornalistas, a pinotage não estava nas escolhidas entre as diversas variedades cultivadas pela Nederberg.

Nos brancos, ela se encanta com a chenin blanc, uma das variedades mais plantadas da África do Sul. “É uma uva muito diversa”, conta ela. Natasha defende tanto os chenin elaborados apenas em aço inox como aqueles que passam por barricas de carvalho, como os vinhos de sobremesa. Vale confiar na enóloga.