Formada em psicologia e pós-graduada em clínica psicanalítica, Júlia Carvalho, hoje com 30 anos, não estava contente com o rotina em consultórios. “Trabalhava com crianças em um hospital e era muito pesado. Não me fazia feliz”, lembra. Ela não imaginava, porém, que iria se sentir realizada profissionalmente em meio a carnes, carvão e churrasqueiras.

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O caminho foi se abrindo aos poucos, após seis meses de intercâmbio na Nova Zelândia. “Lá conheci uma culinária rica e com novos sabores”, conta. E foi essa experiência que levou Júlia a se matricular na faculdade de gastronomia ao voltar ao Brasil.

Na nova fase, a história de sua família (o avô foi dono de açougue) falou alto. “Lembrei do meu avô, que teve cinco filhas e um filho e todos eles trabalhavam no açougue. Minha avó matava porco na varanda de casa e fazia linguiça. Isso está na minha família há muito tempo”, afirma.

“Já meu pai é veterinário, especialista em genética e nutrição animal, e me levava a feiras de gado. Tinha o contato com esse mundo, mas nunca tinha pensado em ser profissional do churrasco”, explica.

O estalo veio ainda durante a faculdade de gastronomia. “Decidi fazer um estágio na cozinha de pesquisa do Outback, depois tive uma aula com o zootecnista Roberto Barcellos, e tudo se encaixou”, recorda. Como projeto de conclusão de curso, Júlia apresentou uma carne maturada dentro de uma geladeirinha de cerveja. “Foi nota dez”, orgulha-se.

A curiosidade pelo assunto fez com que ela estudasse para ser juíza de campeonatos da Kansas City Barbeque Society (KCBS), a mais tradicional entidade do churrasco norte-americano. Desde 2019, ela faz parte do time de jurados do KCBS World Invitational BBQ, uma das competições de churrasco mais importantes do mundo.

Para mulheres
Neste mês de março, Júlia, que também é especializada em técnicas como parrilla, fogo de chão e defumação, é uma das instrutoras convidadas para ministrar um curso de churrasco americano 100% voltado para mulheres. Promovido pela King’s Barbecue, maior fábrica de pits (equipamento de churrasco americano) do Brasil, o curso conta ainda com outra renomada profissional das carnes, a chef Paula Labaki.

No workshop, as alunas vão aprender a preparar carnes e acompanhamentos defumados, como costela de boi, barriga de porco e milho grelhado. Com isso, Júlia espera que mais mulheres se interessem pelas carnes na brasa, universo ainda hoje dominado pelos homens. “A gente tem que mostrar serviço e não dar motivo para ninguém falar nada”, afirma.

(*) por Paty Moraes Nobre, especial para a Menu