Por Roberto Fonseca*

Uma cerveja de baixo a moderado teor alcoólico, com acidez lática refrescante e destaque para frutas frescas, que surgiu em uma região no Sul do país graças à ação conjunta de alguns produtores, ao clima quente e à disponibilidade de matérias-primas, e que tenta se consolidar como estilo. A descrição pode se aplicar tanto à Florida Weisse, sobre a qual falamos em textos anteriores, quanto à brasileira Catharina Sour. Embora as norte-americanas tenham recebido tal denominação anos antes das nossas, foram as Catharinas que conseguiram reconhecimento – ainda que atualmente provisório – como estilo no guia do Beer Judge Certification Program (BJCP), manual usado para julgar concursos da bebida. Mas será que, no copo, elas conseguem deixar claras algumas individualidades?

Movido por esse pensamento, trouxe de viagem duas representantes de Florida Weisse e as levei na última sexta (26/7) a Blumenau (SC) – onde ocorria um concurso de cervejeiros caseiros – para um “duelo” com três Catharina Sours, provavelmente o primeiro ocorrido em terras brasileiras. As norte-americanas vieram em lata, mas as nacionais estavam todas em chope, o que pode configurar uma vantagem em termos de frescor. Em ambos os países, achar os estilos em latas e garrafas não é uma tarefa fácil, justamente pela necessidade desse caráter fresco – em especial para a intensidade das frutas –, que combina mais com chope na própria fábrica do que com vasilhames que podem ficar meses na gôndola. Para me ajudar na tarefa, convoquei os cervejeiros catarinenses Fabio Koerich, da cervejaria Armada, e Idney Nuno José da Silva, do brewpub Liffey.

Foram degustadas as norte-americanas 7venth Sun “Do you even Sudachi, Bro?”, com limão japonês sudachi; e Motorworks “Bizarre Gardening Accident”, com amoras; e as nacionais Armada Pink and Sour, com framboesa, mirtilo e amora; Istepô Moranguinho, com morango e hibisco; e Unika Catharina Sour com maracujá e laranja.

Logo de cara, um problema: a Motorworks apresentava forte nota sulfurosa no aroma, mais potente que a da fruta. Passado algum tempo, o sulfuroso arrefeceu e ela foi degustada. Mas, para os cervejeiros, a presença da fruta estava muito fraca e o adocicado, mais destacado. Até a coloração, pálida, foi classificada como “meio morta”.

A responsabilidade ficava, então, com a 7venth Sun. O limão sudachi, pela descrição no rótulo, trazia à cerveja notas de limão tahiti, grapefruit e pimenta preta. E, de fato, elas estavam bem presentes. “Lembra tempero de peixe”, brincou Silva. A fruta apareceu em primeiro plano; também chamaram a atenção a carbonatação moderada a baixa e a acidez moderada, com final sutilmente adocicado. Já as Catharinas também apresentaram presença destacada das frutas – em especial a laranja e o maracujá da Unika –, acidez um pouco mais elevada, mas não exagerada, e final menos adocicado.

“A Florida Weisse parece ter um perfil mais de suco de frutas, termina mais cheia na boca. Já a Catharina Sour é mais carbonatada, frisante e tem final mais ácido e seco”, afirma Koerich. Para Silva, a baixa carbonatação da 7venth Sun foi determinante na diferença com as nacionais. “Afeta a sensação de boca, faltou picância. Além disso, a acidez (na Florida Weisse) parece menor”.

Houve um “vencedor”? Não seria justo definir, já que as Florida Weisses “jogaram fora de casa” e, portanto, estavam em desvantagem em relação ao frescor. Mas houve uma lição importante: tratam-se de dois estilos a serem consumidos da forma mais fresca possível, de preferência na cervejaria, em chope. Quem sabe não organizamos uma “revanche” nos EUA?

*O jornalista viajou a convite de Visit Florida