Práticas consideradas abusivas, como as “altas taxas, que consomem boa parte da margem de lucro da venda”, fizeram surgir um “ranço” no setor de alimentos e bebidas em relação às grandes plataformas de delivery. É bom lembrar, inclusive, que, no início da pandemia, as empresas de tecnologia chegaram a propor, de forma quase impositiva, exclusividade aos estabelecimentos, o que limitava as vendas e as condições de remuneração entre eles. Agora, empresários de bares e restaurantes começam a investir em aplicativos próprios de entrega com condições especiais para atrair clientes novos e, também, os já adeptos do Rappi e do iFood.

Segundo especialistas ouvidos pela coluna, o WhatsApp também tem se apresentado como caminho para intensificar o relacionamento de restaurantes e consumidores.

À coluna, dois entrevistados listaram vantagens e desvantagens dos grandes apps, além do custo de investimento necessário para desenvolver um aplicativo próprio.

“Em janeiro deste ano, a Uber Eats anunciou que fecharia as operações de delivery no Brasil. Quem possuía um bom volume de vendas na plataforma sofreu uma grande queda de faturamento em menos de três meses. Esse fato demonstra a fragilidade de depender exclusivamente de empresas terceiras para vender no delivery”, recorda Thiago Cebollini, diretor de marketing do Let’s Poke, rede de culinária havaiana de São Paulo.

“A qualquer momento, uma grande plataforma de delivery pode mudar suas políticas comerciais e modificar o posicionamento das marcas dentro da plataforma. Esses fatores estão fora do controle dos restaurantes e podem trazer um grande impacto negativo nas vendas dentro dos APPs”, emenda Cebollini.

Para atrair usuários, o Let’s Poke oferece 30% de desconto no primeiro pedido a clientes que usarem o cupom “taon30off”. Além disso, criou o Aloha Monday, uma promoção, às segundas-feiras, no app, com poke em dobro.

Promoção de prato em dobro do Let’s Poke

Desvantagens do Rappi e do iFood para restaurantes

“Além das taxas altas, está entre as desvantagens dos grandes apps a dependência das demandas dos motoboys do app. E, em dias de chuva, é ainda mais complicado porque o app é que decide se te posiciona nas listas de altas demandas para ter alta visibilidade para os clientes”, relata Bruna Caram, proprietária da Cantagalo Burger, na Zona Leste da capital paulista. A novidade atende em um raio de 5km e possui diversos benefícios, como o valor mais atrativo comparado aos demais aplicativos de delivery.

“O acesso ao cliente é filtrado pelo app e, em alguns momentos, quando temos problemas nas entregas, não conseguimos resolver diretamente com nossos clientes. Além disso, até no caso de pagamentos em débito, recebemos somente em 7 dias”, continua Bruna, que lista que a frota de motoboys das grandes plataformas de entrega é um dos pontos positivos a perder.

Como desenvolver um aplicativo próprio para restaurante?

Segundo a empresária, foi necessário investir quase R$ 2 mil para a implantação do app próprio, além de arcar com uma mensalidade de R$ 270 para manter a plataforma online. “Um custo de investimento que recuperamos em dois meses”, garante ela.

Thiago Cebollini confirma que as altas taxas realmente consomem boa parte da margem de lucro da venda. Além disso, lista a “falta de informação do cliente (não recebemos nenhum dado sobre o cliente que faz os pedidos), a alta competição (muitos restaurantes brigando por visibilidade dentro do app) e nenhum controle sobre o canal de vendas (caso Uber Eats)”, como decisivos para apostar no delivery exclusivo do Let’s Poke.

“Se a intenção é desenvolver a tecnologia própria, criar um app do zero, contratando empresas especializadas e internalizando um time de TI dentro do restaurante, o caminho é mais complexo e custoso, podendo chegar à casa de 6 ou 7 dígitos. Porém, essa opção permite total liberdade de criação e personalização do app”, explica ele.

Ainda de acordo com Cebolinni, um dos pontos mais importantes no desenvolvimento de um canal de vendas próprio é ter informações sobre os clientes e trabalhar essa base de dados a favor do negócio. “Com esses dados em mãos, é possível personalizar produtos e ofertas de acordo com cada perfil ou grupo de clientes, fazendo ações de marketing mais assertivas para melhorar a frequência de compras e experiência de consumo”, finaliza.

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(*) Da redação Menu