por Roberto Fonseca

Embora se possa contar cada vez menos com a constância das estações do ano, foi uma feliz coincidência que a sessão de estudos cervejeiros desta edição traga rótulos bem mais encorpados, densos e alcoólicos. Se já falamos sobre as Session Beers, aquelas que podem ser tomadas em maiores quantidades durante uma tarde, hoje abordaremos as que podem ser consideradas “sofa beers”. Elas devem ser tomadas com calma, em pequenos goles e grande contemplação, de preferência em um sofá ou poltrona, no final da noite.

Da mesma forma que em outros estilos, há nesse caso uma “migração” da Inglaterra para os Estados Unidos, com as Barleywines. Mais maltadas e frutadas em sua origem europeia, elas ganharam uma pegada bem mais intensa de lúpulo (resinoso, frutado ou cítrico, entre tantas variantes) nos exemplares norte-americanos. As Barleywines podem ser tão densas que, no caso da californiana Anchor Old Foghorn, é feita uma segunda passagem de água pelos maltes para retirar os açúcares residuais que não vão para a receita original. Dessa segunda passagem surge uma nova cerveja, a Small Beer. Quanto às Old Ales, cuja origem remete a cervejas que permaneciam longos períodos em estoque, em barris de madeira, para serem misturadas a exemplares mais jovens, convém provar a Strong Suffolk Vintage Ale, enquanto ainda é possível. A importadora Boxer, que traz a cerveja ao Brasil, informou que ela não será mais fabricada; o último lote veio ao País ainda em 2018.

Nessa sessão de estudos, como havia menos estilos em análise, resolvi fazer uma brincadeira com meus colegas na degustação às cegas: coloquei no grupo uma Imperial IPA bastante alcoólica e lupulada, para testar se seria possível diferenciá-la da American Barleywine (em teoria, a Imperial IPA teria amargor mais destacado e residual de malte menos intenso). Não foi uma tarefa fácil, mas alguns dos participantes mataram a charada. Recomendo aos leitores que gostam desse modelo de prova que o repitam. Para gerar níveis mais elevados de dificuldade, sugiro que sejam adicionadas também uma Doppelbock mais avermelhada como a Paulaner Salvator (com perfil mais maltado e menos frutado que uma Barleywine) e uma Brown Ale.
De acordo com Garrett Oliver, da norte-americana Brooklyn Brewery em seu livro A Mesa do Mestre-Cervejeiro, tanto as Old Ales quanto as Barleywines vão bem com crème brûlée. Estas últimas, sem suas versões menos lupuladas, também fazem um bom par com foie gras. E as Old Ales combinam também com carneiro assado.