O restaurante Estação Boca do Monte ficou conhecido na cidade de Piedade, no interior de São Paulo – a cerca de 100 km da capital, por contar com um espaço único: uma vagão de trem antigo como parte do salão. Em janeiro de 2023, a família do dona do local resolveu fechar as portas por alguns meses, mas após uma reestruturação e pedidos insistentes a casa voltará a funcionar neste sábado, 12 de abril.

Em entrevista à Revista Menu, Tammy de Andrade, uma das atuais proprietárias, conta sobre a criação do local, passos da reabertura e construção da relação familiar com os clientes.

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Compra do vagão Pullman e início da proposta gastronômica

A história do lugar começou com a compra de um vagão Pullman em um leilão da FEPASA (Ferrovia Paulista S.A) nos anos 1990. Paulo de Andrade, artista e novo dono das peças de trem, enfrentou algumas barreiras para mover todo o maquinário até Piedade, no interior de São Paulo, onde possuía um terreno associado a uma usina hidrelétrica.

Foi a partir dessa instalação e renovação de todo o interior e parte do exterior do vagão que a família conseguiu abrir pela primeira vez o restaurante Estação Boca do Monte.

Parte do interior do vagão de trem do Estação Boca do Monte (Foto: Tammy de Andrade)

“O trajeto até a cidade oficial foi noticiado por alguns veículos, então a maioria da região já sabia e esperava o que íamos fazer com aquela novidade. Meu pai fez uma faixa e colocou aqui nas janelas, para mostrar onde estávamos passando. Então as pessoas buzinavam, davam tchau e ficavam mais pacientes com o transtorno do trânsito e fechamento da região”, relembra Tammy sobre a época da implementação.

Após a estreia, o comércio passou por diversas adições, como dois grandes salões e o quiosque, além de inovações e testes de cardápio. Apesar de sempre ganhar fregueses interessados no menu e no ambiente arborizado, o foco da procura de quem passava por perto sempre foi entender o motivo do vagão instalado e como a ideia foi concebida.

Breve fechamento

Sobre a reviravolta central da história da casa, a jornalista afirma que mesmo sendo “um presente”, a organização passou por diversas dificuldades e mudanças em um curto período.

O falecimento de Paulo, a dificuldade em manter funcionários por muito tempo pela distância da capital e a “vida dupla” entre o restaurante e as outras funções criaram um cenário insustentável. O anuncio da pausa veio por meio das redes sociais em 31 de janeiro de 2023.

“Ao longo desses 26 anos a gente decidiu dar um tempo, fechar, na verdade, porque estávamos muito cansados e deixando outras questões pessoais de lado. Então essa pausa foi muito importante para reorganizarmos tudo e trazermos a essência da Estação Boca do Monte de volta”, completa.

Planejamento da reabertura

Tammy conta sobre a dificuldade de decidir quando confirmar a volta do funcionamento e o balanço entre o gerenciamento do espaço e a vida pessoal. A casa é inteiramente familiar — a ideia foi concebida pela primeira vez nos anos 90 por seu pai e atualmente a equipe é composta pela entrevistada, seu irmão, sua mãe e poucos funcionários sazonais.

“Estamos entusiasmados com a volta, mas ao mesmo tempo com diversas preocupações. Ao longo desses últimos meses com a reforma estivemos com o dinheiro apertado, já que dependemos somente de nossos recursos próprios que acabam causando essa correria”, diz a jornalista e gastrônoma paulista.

Apesar das barreiras da remodelação, a família está empolgada pelo reencontro com clientes de longa data.

O recomeço do serviço está previsto para a manhã deste sábado, 12, e nos primeiros meses o funcionamento deve se concentrar apenas nos finais de semana e feriados. Por esta razão a reserva para mesas dentro do vagão é “imprescindível, já que elas são muito disputadas”.

Relação próxima com os consumidores

Tammy conta que a boa relação com fregueses fiéis do espaço veio já no início, com o carisma de seu pai no tratamento diário.

“Ele era um ótimo conselheiro e um ótimo host. Então, ele acompanhava os clientes, se demorava muito o prato, ficava ali por perto fazendo sala pras pessoas e entretendo elas. O que acabava instigando que elas continuassem vindo ao restaurante por anos”, conta.

Ela completa dizendo que o plano é continuar recebendo gerações de famílias toda semana – desde o fechamento há dois anos, muitos chegaram a passar pela região e perguntar quando a reabertura seria e quais foram os motivos da pausa.

“Pessoas gostam de pessoas e eu acho que esse é o nosso grande diferencial. Os clientes gostavam muito do meu pai porque ele era uma figura muito carismática, era uma personalidade única. Por ser artista plástico ele era um cara muito inteligente, imerso no trabalho dele. E as pessoas gostavam de se aproximar e entender o que fazemos, já que o nosso projeto sempre foi muito diferente.”

A gastrônoma reforça que apesar da perda do idealizador, suas obras e histórias continuam decorando o espaço e a retomada da operação, tanto do vagão, quanto dos outros salões, é a melhor forma de continuar a tradição e manter o projeto.

Menu sustentável

Assim como nos anos anteriores ao fechamento, o menu segue trazendo a mesma proposta, utilizando alimentos produzidos na região, pratos criados pela própria família e algumas opções que inovam com ingredientes sazonais.

Com a formação em gastronomia, Tammy conta que é inevitável trazer alguns pratos mais técnicos, mas o destaque do cardápio continua sendo a alcachofra, que segue presente o ano todo, e as adições de frutas, vegetais e proteínas produzidas em determinadas épocas do ano.

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Serviço

Rodovia Padre Guilherme Hovel KM 121 – Alto de Piedade, Piedade | (15) 3244-1699 | @estacaobocadomonte

Abertura: 12 de abril, das 11h30 às 15h.

Funcionamento: Finais de Semana e Feriados, das 11h30 às 15h.

*Estagiária sob supervisão