09/02/2016 - 10:10
por Romeu e Julieta*
Já faz um bom tempo que Julieta e eu, Romeu, acompanhamos a trajetória do chef Rodolfo de Santis. Há exatamente cinco anos foi publicada nesta seção nossa crítica ao extinto restaurante Biondi, primeira casa em que o chef italiano deu as caras em São Paulo. Na época, a comida não nos agradou por completo. Já no Domenico, restaurante que também fechou as portas, vimos que Santis acertou a mão na execução de pratos tradicionais da cozinha italiana (crítica publicada na edição 171 da Menu).
Infelizmente não deixamos aqui registrada nossa opinião sobre o Tappo Trattoria, a última casa em que Santis deixou sua marca – a saber: ótima comida a preços acessíveis. Mas ela foi o degrau necessário que o chef precisava subir e conquistar um espaço para chamar de seu: o Nino Cucina, aberto há alguns meses no Itaim Bibi.
No espaço que antes abrigava o francês Le Marais Bistrot, pouca coisa ficou do antigo restaurante. “Acho que só mantiveram a mesma posição do bar”, analisou Julieta. Muito bom gosto é o que traduz a decoração: mesas de madeira bem rústica, parede de cimento queimado, luz baixa, poltronas em um canto do salão – posicionadas como se fossem a sala de estar de casa – e louças desenhadas fazem do Nino um lugar bastante acolhedor. “Pena que a proximidade entre as mesas incomode um pouco”, ponderou Julieta.
Esqueça os longos cardápios. Aqui, são 29 pratos, bem enraizados na cozinha italiana, divididos conforme manda a tradição: entrada, primeiro e segundo prato, para petiscar, queijos e frios e sobremesa. Mesmo com poucas sugestões, não foi fácil a decisão.
Resolvemos compartilhar as entradas e fomos muito felizes com os mexilhões cozidos com tomate, alho e óleo (R$ 36), de ponto preciso e caldo perfumado, daqueles de passar horas “colherando”. A brincadeira também foi boa com o polpette ao sugo (R$ 16), de carne bem rosada, recheado de mussarela de búfala, molho de acidez agradável, servido sobre um pão italiano. “Por mim, ficaria só beliscando”, contou minha companheira.
Ao pedirmos os pratos principais, achei curiosa a atitude do garçom. Depois de questionar Julieta sobre qual seria o ponto da sua costeleta de porco, escoltada por lentilha, nhoque à romana e sopressata (R$ 57), ela respondeu: “Ao ponto”. “O ponto é bem rosado, viu?”, avisou o garçom. E completou: “É melhor ter certeza, pois o chef não deixará voltar a costeleta”. Será que é um comportamento corriqueiro, afinal, o ponto rosado da carne de porco assusta muitos comensais? E, nesse caso, a vontade do cliente não falaria mais alto? Talvez aqui não seja bem assim…
Bom, como o ponto não era um problema para Julieta, ela saboreou cada pedaço da carne suculenta (sim, estava rosada), servida em caçarola de ferro, perfeitamente montada. O nhoque tem sabor potente (assado, feito com semolina, ovos e queijo) e a sopressata carrega um toque apimentado. “É ideal para o inverno”, opinou minha parceira.
Picante também estava meu espaguete à carbonara (R$ 53), que segue a receita tradicional, com ovo caipira e pancetta. De ponto correto da massa e do molho, com fartura do embutido, Julieta aprovou meu prato, mas eu só achei muito apimentado para o meu paladar.
Como não queríamos beber muito, optamos por uma meia garrafa (375 ml) do Chianti Gentilesco DOCG 2013 (R$ 83, e R$ 61,08 na importadora), sugestão do garçom para acompanhar nossos pratos principais. A carta privilegia, claro, os rótulos italianos, mas há poucas variedades em meia garrafa e em taça. “É algo que os restaurantes deveriam investir mais”, opina Julieta.
Depois de fecharmos a refeição com a torta dela nonna (R$ 24), que estava mais para um suflê de chocolate com ricota e pera (mas não deixava de ser saborosa), conclui que o Nino, mesmo que seja mais um restaurante italiano na cidade, terá um lugar cativo entre os apreciadores da tradicional cozinha. “Mesmo com os preços um pouco salgados, minha volta é certa”, concretiza Julieta.
Nino Cucina
rua Jerônimo da Veiga, 30 – Itaim Bibi (veja no mapa)
(11) 3368-6863 – São Paulo – SP
ninocucina.com.br
*Romeu e Julieta são o casal de críticos anônimos da Menu. Crítica publicada na edição 202 da revista.