por Suzana Barelli

Difícil escolher qual história contar neste dia 8 de março, o Dia Internacional das Mulheres, nesta série delas e o vinho. São tantas mulheres pioneiras, guerreiras e interessantes, que merecem ser homenageadas. Acabei elegendo uma dupla: a portuguesa Sandra Tavares e a espanhola Susana Esteban.

E explico as razões. Amigas de vinhedo, desde quando as duas trabalhavam em vinícolas que integram o movimento Douro Boys (e não girls) no início dos anos 2000, as duas sonhavam em fazer um vinho a quatro mãos. Sandra trabalhava na Quinta Vale Dona Maria, e Susana, na Quinta do Crasto. Nas voltas que a vida dá, Susana mudou-se para o Alentejo, onde dá assessorias à vinícolas e tem um projeto próprio e ousado, que leva o seu nome. E Sandra precisou administrar seu tempo entre os três filhos, que nasceram neste período, o projeto Wine & Soul, que tem com o seu marido, também enólogo, e a vinícola da família, em Lisboa.

 

Só em 2011 elas conseguiram realizar o sonho de terem seu vinho, feito a quatro mãos. Nascia, assim, o Crochet (foto à esquerda), um tinto elaborado com 60% de touriga franca e 40% de touriga nacional no Douro. Tudo é lindo neste vinho (na minha opinião, ao menos): o nome, o rótulo, que, em auto-relevo imita o crochê, e, o melhor, o vinho em si. Em 2014, veio a realização do segundo sonho, um tinto no Alentejo, batizado, adivinhem, de Tricot. É elaborado com 50% de uvas de vinhas velhas, plantadas misturadas, na Serra de São Mamede, e 50% de touriga nacional.

Estes dois vinhos trazem a amizade e o trabalho conjunto, em equipe, como exemplos a serem seguidos. E por isso foram escolhidos para o dia de hoje – custam R$ 441,80, o Crocret, e R$ 438,60, o Tricot, importados pela Adega Alentejana.

Mas vale aqui contar um pouco da trajetória destas duas enólogas. Linda, Sandra penou para conseguir um emprego na área depois de formada, exatamente pela sua beleza. Antes de estudar, ela era modelo da agência Ford. E quem me contou esta história não foi ela, mas Cristiano Van Zeller, da Quinta Vale Dona Maria, exatamente o produtor que a contratou no início de carreira. Susana, que trocou o Douro pelo Alentejo quando se casou, vem fazendo um trabalho de redescobrir vinhedos antigos nesta região portuguesa. Ela, ainda, tem um inusitado projeto de convidar enólogos amigos para elaborar vinhos em parceria com ela, para o rótulo batizado de Sidecar. A primeira safra foi feita com Dirk Niepoort, depois com Filipa Pato e o próximo vinho será com um brasileiro.