16/12/2017 - 8:00
por Néli Pereira*
Em tempos de novas discussões sobre o fechamento de fronteiras, o impacto da globalização e assimilações – e apropriações – culturais, sugiro que a gente olhe para o gim. Na história, o gim foi remédio para o estômago e chegou a ser, para os ingleses, uma alternativa nacional ao brandy francês numa época de conflito entre os dois países. Já foi incentivado pelo governo britânico, e proibido após o “gin craze”, ou febre do gim, no século 18, quando o consumo exacerbado da bebida preocupou as autoridades. Voltou à popularidade durante a era vitoriana – foi ingerido por damas e prostitutas, rainhas e plebeus – e hoje cá está entre nós: com versões brasileiras, indianas, inglesas e de quem mais decidir destilar algumas bagas de zimbro e outras especiarias e botânicos. O gim é, portanto, sem fronteiras.
Conceitualmente, é uma bebida destilada à base de álcool de cereais e infusões, sendo o zimbro obrigatório. Mas, assim como na história, ele se adapta onde estiver e, por isso, sobrevive e se reinventa. Há versões em toda a parte do mundo: com pimenta da Tasmânia, na Austrália (Four Pillars); erva-mate, na Argentina (Principe de los Apóstoles); amora alpina, na Alemanha (Monkey 47) e por aí vai. No Brasil, também ganhou ingredientes nacionais (leia reportagem na edição 217 da Menu). A minha receita, por exemplo, leva cataia e raíz de lírio-do-brejo.
A história do gim fala de guerras, de apropriações culturais, mas trata especialmente das adaptações que as adversidades impõem. Ele continua sendo gim, mas ganha sabores e personalidades por onde passa. Arrisco dizer que é a mais contemporânea das bebidas para brindar os nossos tempos.
De Londres a Genebra
O tipo de gim mais encontrado no Brasil é o London Dry (Bombay Saphire, Tanqueray, Bulldog, Beefeater), que não pode ter essências ou adoçantes na fórmula. Outro é o old tom, que permite ter açúcar e se parece com o genever, ou genebra (bebida feita em destilador de cobre com adição de caramelo, que deve começar a aparecer no Brasil). Há ainda o Plymouth, produzido na cidade homônima inglesa, e o primo alemão do gim, o Steinhager.
* Texto publicado na seção A Coqueteleira, da edição 217