Refeições em família ensejam mais contatos, trocas e experiências. Mais do que nutrir o corpo físico, as emoções são alimentadas com o diálogo, o olho no olho, o partilhar de ideias. Inúmeros são os estudos que demonstram os benefícios deste hábito ancestral. Um deles, feito nos Estados Unidos com quase cinco mil adolescentes de 11 a 18 anos, apontou que os que almoçavam com a família com mais frequência tinham menor propensão a fumar, beber e usar drogas, menor incidência de pensamentos suicidas e melhores notas na escola, e é importante falar sobre isso ainda mais neste mês, que é conhecido como ‘Setembro Amarelo’, campanha brasileira de prevenção ao suicídio, que foi iniciada em 2015.

Mas a vida na cidade grande, onde o trânsito nem sempre permite o retorno para casa no horário do almoço, tem tirado este hábito de muitas famílias. Pelo menos um a cada três brasileiros já não fazem esta refeição em casa durante a semana, aponta o Mapa da Alimentação Brasileira, realizado pela Globo em 2023.

Lidiane Leite, cozinheira, professora de panificação e parceira da Marajoara Laticinios, nutre um amor pela gastronomia desde os 8 anos de idade, e revela que a escolha da profissão esteve muito relacionada com as memórias vividas em família, na cozinha e em torno da mesa, que coleciona desde a infância: “Na minha família, meu pai sempre nos ensinou a importância de se reunir na hora da comida. A partir desses momentos que eu entendi que lugar de cura é à mesa”.

Lidiane acrescenta que, além da importância da reunião em torno da mesa, o preparo dos alimentos também é muito importante. “Qualquer alimento feito com muito amor consegue comunicar à pessoa que vai se alimentar que aquilo foi feito com dedicação a ela. Mesmo que seja uma simples salada de frutas, a atenção e o carinho no preparo fazem toda a diferença”, afirma a cozinheira.

A psicóloga Adriane Garcia, que atende no centro clínico do Órion Complex em Goiânia, reforça que a gastronomia pode ser uma grande aliada para a manutenção da saúde mental, ainda mais se o grupo social – seja família ou amigos – se unem também para preparo dos alimentos: “Cozinhar junto é maravilhoso. Cada um trabalha numa função naquele momento para que todos possam se alimentar juntos, e num contexto social isso cria laços afetivos muito fortes que podem fazer a diferença numa ocasião de suporte emocional”.

Para a psicóloga, esse pode ser um ótimo hobby para alguém que busca uma fuga da freneticidade do cotidiano, que pode atuar como processo depressor. “A gastronomia pode ser um hobby interessante, ainda mais para a pessoa que terá essa sensação de experimentar algo novo, cuidar da própria alimentação. Tudo isso ativa regiões do cérebro que ajudam a gente a ter essa sensação de conforto e bem-estar que estão totalmente ligadas à qualidade da saúde mental”, complementa.