Por Suzana Barelli

 

O Alentejo português parece ser uma fonte infinita de inspiração para a enóloga espanhola Susana Esteban. Ela chegou na região em 2007, vinda do “rival” Douro, onde trabalhou como enóloga da Quinta do Côtto e depois da Quinta do Crasto (em Portugal, Alentejo e Douro são como São Paulo e Rio, com certa rivalidade entre as regiões). Ao se mudar para Lisboa, Susana começou com consultorias enológicas no Alentejo e não tardou para trazer maior complexidade a vinhos da região, como o Monte dos Cabaços, entre outros.

 

Em 2009, ela decidiu começar com um projeto pessoal, sem abandonar as consultorias. Sua ideia era elaborar vinhos de autor, diversos dos tradicionais brancos e tintos alentejanos. Como enóloga consultora, ela tem a oportunidade de visitar muitos vinhedos, novos e velhos. Depois de dois anos de procura, ela lançou os seus primeiros vinhos que, inspirados nesta saga, têm o nome de Procura.

 

Na safra de 2014, que em Portugal acontece no segundo semestre, Susana começou mais um novo projeto. É o Sidecar, como é chamado aquele carinho de uma roda só preso de um lado das motocicletas. A ideia de Susana é, a cada safra, convidar um enólogo não alentejano para elaborar um vinho no Alentejo. “É uma interpretação do Alentejo, por um profissional que tenha um olhar diferente”, define a enóloga. E ela segue ao lado, no sidecar.

 

O enólogo de estreia é o irrequieto Dirk Niepoort, que faz vinhos ícones, como o Redoma e os Portos, no Douro. Logo que ele aceitou o convite, Susana o levou para conhecer alguns vinhedos alentejanos fora do percurso tradicional. Dirk acabou escolhendo uma vinha antiga, cultivada com as uvas trincadeira e alicante bouschet, na serra de São Mamede, em Portoalegre, a região de maior altitude do plano Alentejo).

 

A vinificação coube a Susana, já que Dirk estava fazendo seus vinhos no Douro. Mas a enóloga diz que apenas cumpriu ordens, a partir das ideias de Dirk para o vinho. “Até foto da esteira de seleção, eu mandei”, conta ela. A esteira é onde as uvas passam e são selecionadas antes de serem vinificadas. Animado com o que viu, Dirk mandou um tonel do Mosel alemão, usado desde a década de 1950, para que Susana envelhecesse o vinho nele e o vinho ainda está lá.

 

O tinto ainda não tem prazo de lançamento, mas Manoel Chicau, da Adega Alentejana, que importa o vinho de Susana para o Brasil, promete trazer algumas garrafas para cá. E, enquanto o vinho amadurece, Susana guarda a sete chaves quem será o convidado para levá-la no sidecar na safra de 2015.