14/11/2018 - 18:30
por Suzana Barelli
Neste domingo, 18 de novembro, acontece na cidade de Beaune, na Borgonha, a 158ª edição do leilão beneficente do Hospice de Beaune. Com primeira edição no distante ano de 1859 e coordenado pela inglesa Christie’s desde 2005, o leilão venderá 833 barris de vinho da safra de 2018. Serão 631 tintos, elaborados como o pinot noir, e 197 brancos, como a chardonnay, com a perspectiva de arrecadação recorde, maior do que os 11.164.964 euros da edição de 2017. Na plateia, um brasileiro deve chamar a atenção: Alaor Pereira Lino, dono da importadora Anima Vinum, especializada em vinhos da Borgonha e que, neste final de ano, pela primeira vez, importará também champanhe.
No leilão do ano passo, Alaor, como é mais conhecido, atraiu todas as atenções ao se oferecer a pagar mais de 10 mil euros para fechar a venda das duas “pièces des présidents”, o lote do leilão cujo valor é revertido para outras instituições, que não o próprio Hospice de Beaune. A história começou quando o “négociant” Albert Bichot deu o lance de 410 mil euros por este lote. O leiloeiro pediu mais 10 mil euros, sem nenhuma oferta de presentes. Então, pediu mais 10 mil euros para o próprio Bichot para facilitar a divisão do dinheiro entre as entidades que seriam beneficiadas com a venda deste lote. “Como eram três instituições de caridade envolvidas, seria mais fácil dividir 420 (mil) por três”, conta Alaor.
Mas o francês, um dos maiores produtores de brancos e tintos da Borgonha, não topou aumentar o lance, mesmo com a insistência do leiloeiro. Neste momento, Alaor não teve dúvidas: se ofereceu a pagar os 10 mil euros a mais e, em troca, disse que aceitava ficar com duas garrafas deste vinho. “Foi um ato totalmente espontâneo”, conta ele.
A oferta foi aceita, e a história ganhou várias versões. Muitos entenderam que um brasileiro tinha comprado o mais valorizado lote do leilão; outros questionaram se este lance era válido, já que saia das regras previamente estipuladas para o leilão. Alaor pagou os 10 mil euros, junto com o total de vinhos que comprou, mas não sabe se receberá as suas duas garrafas, que ainda amadurecem nas caves da Albert Bichot.
Para a edição de 2018, Alaor está animado. Ele já está na França para participar das degustações que antecedem o leilão para decidir quais serão os seus lances. Desde 2012, ele participa deste leilão, cada ano adquirindo uma quantidade maior de vinhos, que importa para o Brasil. Neste ano, o número de lotes é maior: 828 barricas, contra 787 barricas de 2017, resultado de uma safra de maior rendimento na região.
O Hospice de Beaune nasceu em 1443, como um hospital beneficente do casal de nobres Nicolas Rolin e Guigone de Salins. No ano de 1457, o casal ganhou um vinhedo de doação para a sua obra de caridade e este foi apenas o primeiro de vários hectares que vieram depois. Isso levou o hospital a investir nos vinhos: até hoje, a instituição cuida dos vinhedos que recebe como doação e elabora os vinhos. Mas, diferentemente das demais vinícolas, não envelhece os seus brancos e tintos. Eles são leiloados, sempre em novembro, e cabe aos compradores cuidarem cuidarem do vinho a partir de então. Há vinícolas e enólogos na Borgonha especializados em amadurecer o vinho em barricas e engarrafá-los para os clientes do leilão. No final do processo, o vinho tem um rótulo padrão, mas com destaque para o nome daquele que comprou o lote.
A quem interessar possa, a pièce de président desta safra será um Corton Grand Cru Clos du Roi, cujo valor arrecadado, novamente, será doado a três instituições de caridade. Cada pièce corresponde, no final da elaboração do vinho, a 304 garrafas de vinho.