por Suzana Barelli

A ampla sala de degustação em Santarém

São muitos os consumidores que escolhem seus vinhos pela medalha, preferencialmente de ouro, estampada na garrafa. É como se a etiqueta trouxesse com ela a garantia da qualidade da bebida. E esta é a aposta de Portugal com seus vinhos para o mercado internacional ao reformular seu Concurso de Vinho de Portugal.

Com a capa preta, é impossível saber que vinho está sendo avaliado

Na semana passada, aconteceu em Santarém, cidade próxima à capital Lisboa, a primeira edição da competição agora com a gestão da ViniPortugal, associação para a promoção da bebida do país, em parceria com a Revista de Vinhos. Ao todo, 1.030 vinhos foram avalizados por um grupo formado por degustadores portugueses e especialistas internacionais, incluindo masters of wine, como a inglesa Jo Ahearne (o titulo máximo no mundo do vinho) e um master sommelier, o português João Pires. Do total, 25% garrafas devem obter medalhas, pelas regras da competição, divididas entre bronze, prata, ouro e grande ouro. O resultado oficial será anunciado em 7 de junho.Uma das mudanças da nova gestão é aumentar a participação de jurados internacionais, como forma de incentivar a exportação de rótulos portugueses – neste ano, 32 degustadores, de países como Brasil, Inglaterra ou Alemanha, entre outros, participaram do evento. O Brasil é um mercado importante para os vinhos da terrinha, o que motivou o convite a cinco especialistas brasileiros para participarem do júri. E eu fui uma delas, em minha primeira vez em um concurso internacional de vinhos.

Suzana, na primeira bateria de vinhos brancos

A organização surpreende: os jurados são divididos em seis grupos. Cada um deles é formado por sete ou oito jurados, além de um presidente de mesa. E todos os grupos contam com pelo menos dois jurados internacionais. Nossa ferramenta de trabalho são cinco taças, um computador e uma folha em branco, para quem quiser marcar alguma informação sobre a amostra provada. O presidente ensina as regras: medalha de bronze são para vinhos de 80 a 84 pontos, prata de 85 a 89 e ouro, a partir de 90. A primeira rodada de vinho é servida, para afinarmos nosso paladar – no nosso caso, um vinho branco. Na tela do computador, temos como únicas informações o estilo do vinho (branco, espumante, tinto, colheita tardia, fortificado) e sua safra. Para minha surpresa, degustei muitas amostras da safra de 2008, quando esperava provar vinhos mais jovens, daqueles que estariam chegando no mercado agora.

A ficha de degustação é preenchida por clicks em cada categoria: visual, aromática e olfativa. Em cada uma delas, deveríamos definir se era excelente, muito boa, boa, satisfatória ou insatisfatória, o que correspondia a notas. Os pontos eram somados eletronicamente e logo indicavam se a amostra teria medalha e qual seria. Quando todos os jurados enviam sua nota, o presidente da mesa revelava a média da amostra, que medalha o vinho deve receber. Se tem alguma nota muito diferente da outra, o presidente tenta entender a dispersão – é há vinhos que para um certo paladar são bons e para outros, não. E parte-se para outra garrafa, sempre servida com uma capa preta, que impede a sua identificação.

O preciso serviço de vinho

O computador também permitia saber como estavam as notas de cada jurado em comparação com o grupo. Nos meus dois dias de jurada, provei 40 vinhos por dia, em baterias de 10 amostras – alguns grupos provaram mais. Certamente provei vinhos verdes e acho que tinha uma bateria só com cabernet sauvignon e gostaria de ter provado, ao menos, 10 fortificados, para entender que estilo de vinho do Porto e de Madeira vai para concurso. Mas o estilo de vinhos de cada bateria só é revelado na divulgação do concurso.

Para garantir um paladar afinado, outros jurados degustaram novos vinhos em outros dois dias da competição. E, no último dia, cinco pessoas, lideradas por Luis Lopes, o diretor da Revista de Vinhos, degustaram também às cegas (sem saber que vinho é) as amostras que tiveram nota de ouro. Eles foram os responsáveis por indicar quais receberiam o grand ouro. Os meus 80 vinhos ajudam a ter uma ideia ampla vinhos portugueses – e tinha muita coisa boa ali. Agora, é esperar o resultado final.

A jornalista Suzana Barelli viajou a Portugal a convite da ViniPortugal