29/04/2014 - 13:33
Por Suzana Barelli
A figura do inglês Steven Spurrier é fortemente ligada ao Julgamento de Paris, famosa degustação na qual os vinhos norte-americanos venceram os franceses. Realizada em 1976, na França, a prova colocou os brancos e tintos dos EUA no rol dos grandes vinhos. Spurrier, hoje editor da revista inglesa Decanter, é também um fã dos espumantes brasileiros, que não cansa de defender. Foram estes dois fatos que levaram o Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) a convidar o inglês para conduzir uma degustação nos moldes do evento francês, mas com os espumantes brasileiros à prova.
Era um projeto audacioso, que Spurrier topou na hora e encontrou uma pequena brecha em sua agenda para coordenar o evento: 25 de abril, sexta-feira passada. Mas o inglês sugeriu um outro modelo de degustação, não um “Julgamento de São Paulo”, como a prova chegou a ser batizada, mas um “Panorama dos Espumantes do Hemisfério Sul”. Sua ideia era degustar seis espumantes de cada país abaixo do Equador e que elaboram boas borbulhas: África do Sul, Argentina, Austrália, Chile e Nova Zelândia, além do Brasil. Metade dos vinhos seriam elaborados pelo método clássico, aquele em que a segunda fermentação acontece na garrafa, e metade pelo método charmat, com esta tomada de espuma em tanques.
Spurrier também sugeriu que os jurados soubessem a origem de cada espumante e que não fosse feito um ranking das amostras, degustadas às cegas. Sua ideia era que cada jurado indicasse seus três vinhos favoritos, não necessariamente na ordem de preferência. “Se a ideia é promover o vinho brasileiro, vamos revelar a nacionalidade”, defendeu ele, quando me convidou a fazer parte deste júri. Isso foi em fevereiro deste ano, quando participamos juntos do Argentina Wine Awards 2014, em Mendoza. E completou: “Vamos trazer os melhores espumantes do Hemisfério Sul e tenho certeza que o Brasil se sairá muito bem.”
Sem um ranking oficial, já que os vinhos não foram pontuados, eu indico os meus preferidos. No método charmat, meu primeiro lugar foi um brasileiro, o Reserva Brut da Chandon. Reparei que fui a única, entre os 12 jurados, a eleger este como o melhor. Para mim, o espumante se destacou pela qualidade de suas borbulhas, pequenas e bem integradas ao líquido. No nariz, tinha boas notas de frutas brancas, algo cítrico e um leve floral. Leve no paladar, com bom frescor.
Meu segundo voto foi para o representante da Nova Zelândia, o Sileni Sparkling Brut, que foi bem controverso entre o júri. Borbulhas pequenas, notas de uma evolução já oxidativa no nariz e boa textura em boca eram as características deste espumante. Me pareceu uma amostra que já estava guardada há muito tempo na prateleira, mas que soube evoluir bem. Spurrier não gostou do vinho, que disse não ser o estilo de charmat que ele aprecia. Dirceu Viana Júnior, o primeiro brasileiro eleito master of wine, votou em primeiro lugar neste espumante, comprovando que era, mesmo, uma bebida polêmica. Em terceiro, para mim, ficou o argentino Altas Cumbres, um charmat com fruta um pouco mais doce, floral, leve.
Na segunda parte da degustação, com os espumantes pelo método tradicional, meu primeiro voto foi para o representante da Austrália, o Angas Brut. Borbulhas pequenas, muitas, notas de frutas brancas, floral e, ao fundo, uma leve nota de leveduras. No paladar, cremosidade, persistência e frescor. Em segundo lugar, elegi o Miolo Millésime, da vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos. Gostei de suas borbulhas abundantes, de uma nota cítrica e, principalmente, do seu frescor em boca.
O terceiro lugar foi um empate para mim, entre o brasileiro Casa Valduga 130, e o neozelandês Miru Miru, da Hunter’s. Mas como só podia votar em um, escolhi o brasileiro, de boas notas florais, algo de cítrico (limão), fresco, alegre.
Os preferidos de Steven Spurrier foram, no método charmat, Giacomin, Cordelier, os dois brasileiros, e o argentino Norton. No método tradicional: Miru Miru, da neozelandesa Hunter’s; e os brasileiros Cava Valduga 130 e Cave Geisse Blanc de Blanc.
Ao todo, foram degustados 11 espumantes elaborados pelo método charmat e 10, pelo clássico. A ideia de Spurrier era degustar 18 vinhos de cada método, mas a dificuldade do Ibravin de encontrar estas garrafas no mercado brasileiro reduziu o tamanho da degustação. Participaram do júri, além de Spurrier, Viana Júnior e eu, o chileno Patricio Tapia, o italiano Roberto Rabachino e os brasileiros Mauro Zanus, Marcelo Copello, Horst Kissmann, Christian Burgos, Diego Arrebola e Eduardo Viotti.
Os vinhos degustados, pela ordem servida, foram:
Método charmat: Norton Extra Brut, Trivento Brut e Altas Cumbres (da Argentina); Chandon Brut, Giacomin Brut e Cordelier Brut (Brasil); Santa Carolina Brut, Concha y Toro Brut e Santa Helena Premium Brut (Chile); Sileni Brut (Nova Zelândia) e Nederburg Cuvé Brut (África do Sul)
Método tradicional: Luigi Bosca Brut Nature, Kaiken Brut e Trapiche Brut (Argentina); Angas Brut (Austrália); Miolo Millésime, Casa Valduga 130 e Cave Geisse Blanc de Blanc (Brasil); Tarapaca Brut (Chile); Hunter’s Miru Miru (Nova Zelândia) e Krone Brut (África do Sul)