28/10/2017 - 8:00
por Roberto Fonseca*
Uma das minhas primeiras surpresas com cervejas artesanais brasileiras completou dez anos em 2017. Em março de 2007, provei uma receita frutada, condimentada e que vinha em uma garrafa de rolha. Era a Falke Monasterium, inspirada nas Tripels belgas e produzida até hoje. Na mesma época, outra marca mineira, a Wäls (hoje parte da Ambev) também se aventurava em Dubbels e Tripels, o que rendeu a Minas Gerais, na época, a denominação de “Bélgica brasileira”, e deu a impressão de que a influência cervejeira do país europeu seria uma grande força motriz no cenário nacional.
Muitos anos – e principalmente muitas IPAs depois –, o mercado artesanal hoje é fortemente pautado pela escola norte-americana e suas cervejas lupuladas, que acabaram ofuscando as criações influenciadas pela Bélgica. É claro que é possível encontrar muitas Witbiers brasileiras e algumas Belgian Strong Ales claras e escuras. Mas não de forma tão abundante quanto novas IPAs.
Mesmo entre os poucos representantes nacionais inspirados nas belgas, um estilo tem sido particularmente desafiador de achar: Saison. Em linhas gerais, é uma cerveja frutada e condimentada – com notas cítricas, de pimenta preta e cravo, por exemplo –, amargor e carbonatação destacados e final bem seco. Ou seja, refrescante mas com uma boa complexidade aromática e de sabor. Sua história está ligada a fazendas da região da Valônia, onde ela era produzida e estocada para as estações mais quentes. A referência moderna em Saison é produzida pela belga Dupont e, infelizmente, não é mais importada para o Brasil.
Uma das primeiras Saisons comerciais nacionais foi a Saison à Trois, da carioca 2Cabeças. Posteriormente, surgiram outros exemplares de destaque, como a gaúcha Seasons Celsons, sazonal, e a carioca Motim Canudos (esta última ganhou ouro este ano no Concurso Brasileiro de Cervejas, em Blumenau). Há, ainda, variações interessantes do estilo, com adição de frutas (como as paulistas Mafiosa Little Valley, com figos, e Dogma Panopticon Times, com cajá) ou mesmo com maturação em madeiras pelas quais passaram outras bebidas (Bodebrown Saison Montfort e Treze Brazilian Wood). É um panorama promissor, mas certamente deveria ser mais numeroso.
* Texto publicado na coluna Colarinho, da edição 217