Por Suzana Barelli

Hoje, recebi dois telefonemas de amigos me perguntando que vinho devem abrir com as suas mães. Ao pensar nas sugestões, me dei conta que a data está aí e que eu também não decidi ainda o que beber neste domingo. No Dia das Mães, o primeiro vinho que me vem à lembrança são os da linha Crios, da minha xará argentina Susana Balbo. São brancos e tintos pensados em mães e filhos, como o nome e o rótulo já indicam: Crios vem de criação, cria, e sua etiqueta traz a mão da mãe e, dentro dela, a de dois filhos.

Mas foi o vinho que bebi nesta data no ano passado, inspirada em toda sua simbologia. E, confesso, não é fácil escolher vinhos temáticos. Mães são únicas, com suas receitas especiais, tão deliciosas em nossa memória afetiva. Um vinho para harmonizar com estes pratos temperados de emoção também deve emocionar na mesa. Uma pedida é escolher os brancos ou tintos elaborados por mulheres, numa lista que não pára de crescer – ainda bem! Posso lembrar de outra xará, a espanhola Susana Esteban, que faz belos vinhos em Portugal, para ficar em apenas uma das inúmeras opções de vinhos de enólogas.

Acredito que mãe merece um vinho classificado como feminino. E não é por ser elaborado por uma mulher que um vinho será, necessariamente, feminino. No linguajar do mundo de baco, femininos são aqueles vinhos mais elegantes, nos aromas (que não são perfumados demais), nos taninos, sempre macios, na complexidade. Masculinos são aquelas bebidas mais potentes, no qual a cabernet sauvignon é a melhor tradução.

Sim, acho que os vinhos femininos são o presente que todas as mães merecem em sua data. O pinot noir, por exemplo, tende a dar tintos mais femininos, melhor ainda se for da Borgonha. E, aqui, um parêntese: feminino não quer dizer vinhos simples, muito pelo contrário. O Château Margaux, um dos grandes tintos de Bordeaux, é considerado um vinho feminino e tem uma complexidade ímpar.

A syrah também pode ser vista como uma uva feminina. Está certo que é uma cepa mais potente, mas que resulta em tintos com notas de especiarias, como pimentas, bem típicas. E especiarias são tão femininas… Lembrei que tenho uma garrafa de uma safra antiga de um shiraz (como a uva é chamada no Novo Mundo) da África do Sul de uma vinícola de nome quase impronunciável: Boekenhoutskloof. Acho que ele será o meu escolhido, se a decisão for por um tinto.

A questão é que, para mim, os brancos tendem a ser mais vinhos mais femininos. Principalmente quando têm o frescor como um dos destaques. A lista de brancos elegantes e, melhor, gastronômicos é enorme. Na minha casa, o Dia das Mães terá um bacalhau como prato principal e isso pede brancos mais persistentes.

E, nesta pensata, encontro minha sugestão final, um branco do Priorato, que provei nesta semana. É o Nelin, que René Barbier, um dos pioneiros nos vinhos desta região espanhola, elabora com uma precisão ímpar, com garnacha blanc, marsanne, roussanne, pedro ximenez, entre outras uvas brancas locais. Não é um branco simples, mas tem uma bela complexidade e persistência. E melhor o nome do vinho (que aposto que foi uma sugestão de Isabel Meyer, a mulher de René) é a união das sílabas finais de seus dois filhos René e Celin. Mais maternal impossível.

Para comprar:
– Os vinhos da Susana Balbo são importados pela Cantu – www.cantu.com.br
– Susana Esteban é a enóloga dos vinhos de Margarida Cabaços e de Tiago Cabaços, importados pela Adega Alentejana – www.adegaalentejana.com.br e tel 11/5094-0321
– O Boekenhoutskloof e o Nelin são importados pela Mistral – www.mistral.com.br, tel 11/3372-3400