por Suzana Barelli

Pouco ou quase nada conhecidas, forcada, moneu e pirene são uvas viníferas espanholas. A primeira, branca, se destaca pela acidez. A moneu, tinta, tem nítidas notas de frutas vermelhas frescas, e a terceira, também tinta e de notas especiadas, consegue maturar em climas mais frios. Em comum, as três variedades eram dadas como desaparecidas e foram redescobertas pela vinícola espanhola Miguel Torres.

O projeto, hoje liderado por Miguel Torres Maczassek, da quinta geração da família de tradicionais produtores, começou, na verdade, 30 anos atrás. Nasceu da ideia de não apenas descobrir novas variedades indígenas, mas de se preparar para as questões de mudanças climáticas e de sustentabilidade. “Variedades antigas tendem a ser mais bem adaptadas às suas regiões de origem”, explica Maczassek.

O primeiro passo de Miguel A. Torres, pai de Torres Maczassek, foi colocar anúncios em jornais locais da Catalunha, convidando aqueles moradores que tivessem variedades de uvas que não sabiam identificar qual eram a entrar em contato com a vinícola. Foram centenas de telefonemas de pequenos produtores, contado sobre uma vinha que tinham, mas que não sabiam o que era. Desse total, apenas 45 deles eram de variedades realmente desconhecidas.

O garimpo dessas vinhas foi realizado em parceria com a Universidade francesa de Montpellier. Identificada as uvas, a parceria continuou com o trabalho de limpar cada clone dos vírus e de replantá-los, agora saudáveis. Desse plantio, seis variedades já mostraram seu potencial: além das três citadas no início desse texto, e que vieram na mala de Torres Maczassek, em rótulos ainda provisórios, para uma degustação em São Paulo, há as tintas quero, gonfaus e garró. Atualmente, a vinícola trabalha junto com o órgão regulador dos vinhos espanhóis para reconhecer essas variedades.